sexta-feira, 7 de outubro de 2011

uma canção para gritar


Tem dias em que não epifania, sol que doira, conversação que salva. Tem dias em que encarnamos o triste príncipe perturbado da Dinamarca, e andamos de um lado para o outro com um livro aberto: palavras, palavras, palavras... Tem dias, oh, como este, que pensamos em degolar, matar o primeiro vivente que não tocar a campainha, ou que tocar. E presumir cenas das mais torpes para dar um fim à humanidade. Nossa cabeleira aos assombros, nossas camisolas amarfanhadas, mal queremos deixar o ninho macabro das cobertas. E quando o deixamos, zanzamos pela casa na ilusão fantasmática de continuar a dormir, sonâmbulos de todos os horrores presenciados. Tudo nos conclama à destruição, nossas mãos adquirem tentáculos horripilantes, tendo todos os oráculos ao nosso lado a sussurrar destinos inelutáveis. Talvez saibamos, nesses dias, e saber disso é decifrar cruéis mistérios, que somos de fato herdeiros de Édipo, e por isso condenados, vivos e cegos, a suportar o tempo que nos resta.


Imagem: cena Ofélia enloquecida. Do filme "Hamlet"; direção Laurence Olivier (1948).

3 comentários:

Anônimo disse...

Queria tanto mudar tua visão da vida e do mundo e do amor e do homem e de tudo. Hipocrisia de outro cego, esse que ousa comentários assim.

Anikulapo disse...

Aero muito mais que amiga, sei o quanto é difícil sobreviver nesse"vale de lagrimas" e o quanto é difícil pra você; ser tão delicado e angelical, suportar toda esse mar de idiotas. Minha receita pra não comprar uma arma e virar um psicopata e sair atirando em todo os "completos imbecis" que não merecem viver, é chapar de cannabis e wisk.

Naiana P. de Freitas disse...

Esse eu não posso comentar.Porque, suspirei ao terminar de lê-lo. E as palavras não alcançam.


abraços apertados,