
A arte vive dos relacionamentos humanos. Sempre em desencontro, os casais na maioria das vezes são "dois inimigos", como bem disse Drummond sobre os "dois amantes". Por que é tão difícil conviver, por que é quase impossível amar, por que as relações sempre acabam, por que... Paro por aqui com medo de me aprofundar ainda mais no clichê. Há esperança? Não sei, embora acredite que há amor. A dificuldade está na possibilidade de viver o amor. Porque os homens ainda não sabem como conviver com a falta da hipocrisia, porque a hipocrisia se estabelece nas relações como algo que faz parte de suas entranhas, algo natural. E porque a não hipocrisia não consegue estabelecer diálogo profícuo com o amor. Este idealiza, sempre. Aí o que sustenta a idealização, para quase todos os casais, é a hipocrisia. Mas viver o outro no cru, na sua crueza de ser vivente no mundo, sem polimentos, é quase que impraticável. Com essa impraticabilidade é que a arte dialoga; quem sabe um dia a possibilidade de amar ganhe sobre as hipocrisias, e o amor, em seu estado totalmente natural, sobreviva às convenções e às desistências. E, como no final do filme "Manhattan", de Woody Allen, possamos acreditar que ainda existem no mundo seres que não se corrompem.
Imagem: Cena do filme "Manhattan"(1979), de Woody Allen.