quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

sonho


Onde pai andará, nesse instante?
Com auréolas de rei, abrindo cancelas
Na sua roça de milho, eterna?

Buscando as sandálias, ao entardecer,
Como tanto fazia antes?
Fechando as janelas, com a chegada da noite?

O que de hábito permaneceu, à distância,
Nesses dezoito anos de ausência,
Para que continuasse tão perto?

Decerto o chão de nossa casa
Com o vermelho cimento encerado
Fazendo espelho aos seus pés

Decerto essa frágil permanência
do outro lado, onde tudo reverbera
em aquiescência e abandono

Decerto o mundo, mesmo,
Com seus vestígios de sonho
Trazendo-o como dono; de tudo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Decerto saudades, muitas saudades.

Duda disse...

Lindo post!
Lindo poema!

Anônimo disse...

Clap, clap, clap. Onomatopeia constante de minha admiração por você, desde sempre, desde quando cheguei aqui pela primeira vez e fiquei espiando, espiando, espiando...

Delirium disse...

Estou tão velha quanto os anos de ausência de meu pai. E nem sei que auréola poderia cingir sua cabeça porque minha existência, tão recente naquele momento, não dava conta de sua existência, dos seus modos e manias. Seu belíssimo "sonho" cutucou uma ferida permanentemente aberta, mas quem sabe não o encontro por aí, pelas paisagens oníricas da vida?.

Sandra disse...

"Onde pai andará, nesse instante?"
Em você talentosa Ângela. Ele está em você. Veja-o. Nossos pais, seres construtores de cada célula que nos constitui, estão em nós. A sua herança vai pairar em nossa carne, em nosso espírito e nas pessoas que conosco convivem. É lindo o seu amor por seu pai. PAI é sempre aquela figura tão diferente da mãe...que enche os olhos das filhas tão inquietas e curiosas em entender um ser tão simples e tão completo. A meu pai talvez tenha faltado muitas outras coisas...menos o amor. Um amor apresentado da forma mais inusitada possível, que a mim custou entender, porém esse tempo chegou a tempo e pude eu senti-lo. Grande abraço!