quinta-feira, 29 de julho de 2010
Salve Rainha
Salve, Rainha, mãe de misericórdia,
vida, doçura, esperança nossa, salve!
A vós bradamos os degredados filhos de Eva.
A vós suspiramos, gemendo e chorando
neste vale de lágrimas.
Eia, pois, advogada nossa,
esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei,
e depois deste desterro mostrai-nos Jesus,
bendito fruto do vosso ventre,
Ó clemente, ó piedosa,
ó doce sempre Virgem Maria
Rogai por nós santa Mãe de Deus
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
Essa oração me dá arrepios. E uma imensa vontade de chorar. Agora entendo tudo. Aos seis, próxima ao berço mãe carinhosamente me ensinou o pai-nosso. Oração doce, oração feliz, oração para crianças. Porém, às escondidas, à noite ouvia um choro convulso acompanhado pela Salve-Rainha. Era mãe rezando. Um dia quis aprender essa oração. E fui interditada, e os olhos dela traziam um segredo imenso, e uma dor, e ela disse que aquela oração era perigosa, não era para crianças. A Salve Rainha desde então virou um segredo em chagas, pois que mãe só a pronunciava quando sofria. Que oração é essa, que dói tanto, e que só os adultos poderiam conhecê-la? Hoje entendo, e ao recitá-la, integralmente, mãe volta a chorá-la dentro de mim.
Imagem: www.google.com.br
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13 comentários:
Vixe Maria!
Uma oração que era segredo de dor. Como pode no presente abrir um choro antigo? É linda a imagem "A vós bradamos os degredados filhos de Eva". Somos todos filhos decaídos. Qual é a dor da marca da queda? Que dor é essa a voltar no presente como um suspiro triste,
"neste vale de lágrimas"? Muito bonito esse seu momento mnemônico de encontro consigo mesma.
Aero, como você guarda ternura. Que coisa mais divina e linda !
Pois é, Aérea Persona. A mãe minha também chorava ao pé do nicho murmurando "Salve Rainha". Fui coroinha do padre Otávio Bastos, meu primo distante, mas jamais passei do "Credo", que eu já achava temerário dizer. Mas lendo agora a oração fica patente sua potência e ancestralidade. "Viver é muito perigoso", definitivamente. Abr (carlos barbosa)
Temos marcas de recordações muito parecidas. Talvez pela origem interiorana, talvez pela sensibilidade à flor da pele, sabe-se lá o que mais.
Também e talvez por isso, nos sintamos tão próximas apesar de amigas virtuais.
Obrigada pelas visitas. Admiro demais seus textos.
Vivenciei a cultura desses Mistérios, antes tão intensos. Como esquecer o cântico de Verônica, aquele lamento? Como esquecer a face de Nosso Senhor Morto e a imagem tétrica de Senhor dos Passos? Há o Bom Jesus da Cana Verde também. Estes santos foram os meus monstros sagrados. Eles compuseram o meu imaginário infantil. Essas coisas a gente nunca esquece, Aero. Acho que isso é uma riqueza que a gente guarda. Talvez na nossa velhice, quando estivermos beijando o túmulo, eles voltem, mais vivos que nunca. Beijo.
E embarcando nas suas memórias, contadas com mão de mestre, me emociono inteiramente.
Maria de Nazaré, amor em estado puro, envolve-nos com seu manto de luz e nos aquece a alma. Um dia saberemos amar como Maria?
Nunca consegui decorar essa oração. Talvez agora saiba porque.
"eia, pois, advogada nossa". Me ajudou muito em causas jurídicas quase perdidas.
Nunca observei essa oração com esse ponto de vista. Você me ajudou a vê-la diferente, mais dolorosa, mais bonita. Você é incrível, Aero. Assim como a Gerana, me emociono com as tuas memórias. Você transforma tudo em literatura: "Hoje entendo, e ao recitá-la, integralmente, mãe volta a chorá-la dentro de mim." Que coisa linda! Um beijo!
Aero,
Não sou religioso, mas entendo que essa seja não seja uma oração para crianças. Ser digno das promessas de Cristo, é muito mais difícil para os adultos.
Lindo o teu texto. Emocionante.
Beijos,
Terráqueo
Por que será que sua mãe chorava? Pergunta mais ingênua, eu sei que as mães sempre têm por que chorar...
Mas eu gosto de rezar Salve Rainha, e acho tão expressivo dizer: Mostrai-nos Jesus, BENDITO FRUTO DO VOSSO VENTRE. O fruto do ventre sempre me impressionou como um mistério a que jamais poderemos ter acesso. Mesmo quando os frutos foram os do meu ventre, sempre estive cheia de perguntas sem resposta.
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