quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
no melhor do mau humor
Enquanto Ivan Ilitch arrumava sua nova casa, esquecia-se da miserável e medíocre vida. Vida medíocre e miserável que nos acorda e nos impõe viver, de qualquer maneira. O que faço todo dia é arrumar uma nova casa, comprar um dvd, um livro novo, dar uma vassourada no quarto, sei lá, para ir vivendo sem pensar em cordas, facas, giletes, ou seja, todo o arsenal de guerra contra a existência. Enquanto isso, a geladeira continua com aquele zunidozinho de continuidade ininterrupta, o ventilador idem, e a rua escurecendo e a rua clareando, e eu tomando banho, e comendo, e dormindo. Pra que peste é isso? Pergunto no melhor do meu mau humor. Pra que peste é isso? Acendem a luz, por favor! O filme que passa é como uma cápsula de remédio na veia, me acalma, e eu até acredito numa espécie de felicidade possível. Mas a burocracia está batendo na porta, tal qual o chefe de Samsa, só porque me atrasei um pouco arrastando minha asa de inseto no chão.
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6 comentários:
Pois é, Aérea Persona, assunte o que diz o mestre Rosa em "Tutaméia": "Loucos, a ponto de quererem juntas a liberdade e a felicidade". Que tal? Abr (
que desfecho!
No melhor do mau humor aparece o melhor da aero, que tem as asas de um inseto e também de um pássaro que o come.
beijos
"Existirmos: a que será que se destina?" (Caetano Veloso)
te entendo tanto...
No melhor do mau humor, escreve essa preciosidade, imagine no melhor do bom humor que divinas palavras virão. :-)
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