sábado, 24 de março de 2012


Um dia se cansa de insistir no amor. As delicadezas dos bordados em iniciais se esboroam, os enxovais viram pano de chão, e a gente vai arrumar o que fazer. Os momentos bons seguem para o álbum de figurinhas, e a espera que o tempo se instale, corrosivo, colocando pó nas lembranças, é o que o corpo cansado deseja, com insistência. Depois, a ampla, a grande, abundante solidão. Solidão inteira: de casa grande sem eco, de pratos sem bocas, de redes paradas. Depois, o sono, a letargia, o abandono. Sim, porque todo amor que acaba deixa a sua marca de abandono dilatada. Por que todo amor que acaba é de um mau gosto e de uma dor insuportáveis. Por que o amor sempre pede muito e não dá nada, nada, nunca.

5 comentários:

Lidi disse...

Texto lindo demais. De uma beleza pungente, dolorosa, verdadeira. Bjs

ideia não tem a(ss)ento disse...

porque aeronautas não estão na lua. estão no interior do eu.
grandioso!

Bípede Falante disse...

Acho que o amor é mesmo dado a empréstimos.
Beijoss

Anônimo disse...

"O amor é como um laço. Um passo pr'uma armadilha"...

Anônimo disse...

"O amor é bandoleiro. Pode até custar dinheiro. É fulô que não tem cheiro e todo mundo quer cheirar"...