É tarde, quase noite de Natal. E meu sobrinho, de dez anos, telefona para mim dizendo que sabe que Papai Noel não existe mais. E que não saiu perdendo não, pois os presentes continuam garantidos. E que Natal é a festa que mais gosta, nem o aniversário dele é tão bom. E que quando eu for, à noite, para a ceia, não me esquecer de levar o cd que lhe tomei emprestado: "Um século musical: o melhor da música brasileira", que tem "conversa de botequim", lembra?,de Noel Rosa, música que ele ama pois acha muito engraçada. Ah, e que eu leve emprestado - "como se fosse presente de Natal", o meu disco de Beto Guedes. Outra coisa: que ele ficou ontem, até às onze horas da noite, ouvindo com o pai o cd de Elis Regina que eu lhe dei na quarta-feira. E que "o cd,titia, é fantástico: Elis cantando samba!"...
Ao desligar o telefone, tento buscar a menina de dez anos que fui, perdida do outro lado de uma linha que não existe mais. O que ela ainda sente? O que ela ainda gosta de ouvir? O que ela gostaria de ganhar neste Natal?
Ela não responde. Anda longe, e daqui só consigo ver uma árvore pequena que mãe armava todos os anos em cima da mesa, forrada com um pano bordado de sinos coloridos... Agora, nem um rastro de Papai Noel. Nem de um som natalino. Mas a menina está lá dentro, eu sei, insistente e pálida, aguardando.
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2 comentários:
Aeronauta, suas "conversas natalinas" me lembram muitas coisas, principalmente a minha infancia onde eu e meus irmãos esperávamos os presentes. Mesmo sabendo que Papai-Noel não existia...
G.
Esse puxou a tia hein com esse gosto apurado!
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