Devo ter herdado mesmo de meu pai essa nostalgia, essa lágrima pendente, sempre pronta a cair, esse desespero de amar... Esses dias enormes que nunca acabam, nem por decreto de algum poeta invisível. Oh, Quintana, venha me visitar agora e me diga o seu "ora bolas!" Preciso rir, talvez relembrar que visitei o hotel de Falcão em Porto Alegre e na minha idiotice não sabia que você morava lá. Ah, se eu soubesse... Bateríamos longos papos, talvez. Talvez não, naquela época, aos vinte e poucos anos, eu era mais bicho do mato do que sou agora. Mas eu já tinha colado no meu guarda-roupa o seu poema "Canção do dia e de sempre". E achava que você estava certo. Eu sempre quis ser sábia e engraçada, como você, e nunca consegui. São esses dias, Quintana, esses dias que não acabam nunca...
É, devo ter herdado mesmo de meu pai essa melancolia absurda, essa emotividade sem freios, esse meio olhar para a vida. Todas as cartas de amor não respondidas, os sorrisos não trocados, a esperança lírica e íntima, sempre, açoitando... E a certeza de um destino escrito, ano a ano, num papel branco, como que se esboçando para o dia que nunca chega, que nunca chegará... Ah, Cecília, só tua vida poderá dizer da dor, a minha não. E eu fico aqui chorando diante da única tragédia que é apenas existir. Nem sou dentuça, não é, Bandeira? Nem tísica sou. Deveria estar agora numa roda de amigos bebendo vinho, sorrindo, ao invés de dedilhar, piegas, no computador.
Mas herdei mesmo de meu pai esse pendor para o choro, para pôr a mão na cabeça como minha tia,sua irmã, sempre fazia, a gritar: "O que esperar, Senhor?" Toda a sua família é assim, gente desesperada, gente como eu sou, que nunca soube negociar com o mundo, com a dor. "Oh, não se mate Aeronauta", me diz Drummond... Escuto sua voz daqui onde estou: ela de novo diz baixinho que o amor é mesmo "sempre triste, minha filha"... E ainda me pede devagar: "Mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá."
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10 comentários:
Eu, que também sou Carlos, digo: oh, revire a vida, Aeronauta, não se cale! Faça de cada lágrima um poema, de cada desesperança um livro. E se recrie diariamente como escritora e professora. Transforme lágrimas em suor, em salivação prazerosa. E diga ao mundo seu verdadeiro nome: alegria. Abr. Carlos
Não tem coisa píor do que palavras animadoras, encorajadoras, quando a gente tá assim, como você. Às vezes é melhor uma bronca: tá bom, chega!. Chega de choro, você tem todo o direito à melancolia, em não querer esta vida deste jeito. Mas levanta logo daí pro recreio garota, porque tem muita gente no mundo querendo brincar.
Carlos e Ivan,
Escrever sobre a melancolia é livrar-se dela. O que vale mesmo nunca é o biográfico, vocês sabem. Beijos. E sosseguem: não vou me matar não.
Eu continuo insistindo nos livros que pedem, em você, saída. Abr. Carlos
Quem foi que disse "eu amo os que sofrem"? Quem disse isso? Quem? Eu não me lembro, mas eu amo, amo muito, Aeronauta, e também sofro. Sei que as tuas alegrias também são muito intensas. Teu nome é intensidade, querida. Vive.
Espero q isso te anime, mas não tem Drummond, Cecília ou Quintana, na frente da Nauta e seus textos perfeitos! Nautinha, deixa d melancolia, podia ser pior, vc podia ter batido o carro num taxi hehehehe Bjao!
"Vc podia ter batido o carro num táxi"? Rai ai, viu?
a nostalgia faz parte e ajuda a trazer a paz e aquela sensação "bah, hoje eu estou bem..".
Ah, Aeronauta, nada como uma nostalgia pra nos trazer coisas boas.
Tu és de Porto?
aeronauta - livre-se da melancolia escrevendo dessa forma, e terá sempre minha leitura. amo seus textos. um abração.
Carlos: a idéia do livro é sempre um sonho;
Mônica: adoro seus comentários: tão líricos!
Críticas criticáveis: obrigada pelo elogio tão insano!
Personagem: não brigue com seu amor...
Luísa: não sou do Porto, mas tenho a alma lusitana;
Katherine: seu comentário me inspirou um post em pleno domingo!
Abraços a todos.
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