(Antigamente quando as pessoas nasciam os pais saíam porta afora soltando foguete. Alegria! Mais um veio ao mundo![Para quem não sabe do que estou falando, foguete é a mesma coisa que fogos de São João]).
Sempre tive pavor a foguete. Quando criança era a coisa que eu mais tinha medo, além de cachorro. Lembro de uma festa do Divino em que fui com minha avó para a última novena, num sábado à noite. Ao sairmos da igreja, a foguetada começou. Foi um horror danado. Eu chorava, grudava na minha avó, e entrei na primeira casa que vi pela frente. E eles, os fogueteiros, não acabavam jamais de festejar: era um foguete atrás do outro. E minha avó nunca foi de ter muita paciência, só com Raimundinho, um neto que ela criou para dar a São Paulo e não virar solução para ninguém, só rima para o mundo; "Mundo" - que era como ela lhe chamava com dengo. Pois bem, eu, ela e Raimundinho, presos naquela praça enorme da Matriz, dentro da casa de uma pessoa que não conhecíamos, só porque eu me pelava de medo de foguete... Eu gritava e chorava sem nenhum pudor (devia ter uns oito anos), para ver se os fogueteiros paravam. Que nada! Depois de mais de uma hora nisso, minha avó me puxou pelo braço e foi me levando pela praça incendiária. Com tanto foguete, a praça era um clarão medonho numa das cenas mais horríveis que tenho lembrança. E eu saí correndo e ela e Raimundinho correndo atrás de mim, algo risível. Quando finalmente conseguimos chegar em casa, minha avó falou para mãe, quase cochichando, que nunca viu "uma coisa assim": "Que menina medrosa é essa, Té?"
Outro desencontro que tive com minha avó aconteceu quando eu era bem pequena: devia ter uns cinco anos. Fomos todos para a sua casa e de lá mãe saiu escondida para um povoado perto. Saiu escondida de mim, claro. Quando procurei por ela e não encontrei dei início a um choro de fazer qualquer um ficar doido. E minha avó dizendo: "deixe ela chorar". E chorei mesmo: o dia inteiro. Só que teve uma hora em que ela já estava perdendo a paciência e falou em me bater. Não me esqueço da revolta que senti nesse momento ao pensar na maior verdade que acreditava existir: avó não tem direito de bater em neta...
São essas as duas grandes lembranças "chatas" - de infância - que trago de minha avó. Uma mulher danada, sem papas na língua, e que só tinha dengos mesmo era para Raimundinho... Raimundo, aquele primo que São Paulo carregou a fim de ser uma triste rima para o mundo. Esta história outro dia eu conto.
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Um comentário:
Eu sempre morei longe das minhas avós, então sempre fui muito deseducado por elas. Tenho ótimas lembranças...
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