Eu estava na sétima série, e a professora passou uma redação cujo tema era: "Quem sou eu?" Não me lembro o que escrevi, acho que tentei filosofar barato dizendo coisas como "inexprimível", "indizível", sei lá. Nunca me esqueci desse tema. Parece que foi ele que me deu os primeiros sinais de alerta de minha mortalidade. Eu não saía, eu era um bicho do mato, eu tinha pavor de gente. Eu usava uma trança, a trança era enorme. Eu tinha vestidos horríveis que minha mãe, empenhada em me enfeiar, comprava para mim. Ela fazia questão de deixar eu e minha irmã completamente feias e fora da moda: se nossas amiguinhas vestiam minissaia, ela mesma costurava para nós um grande vestido longo, de pano grosso, para esquentar bem no calor, e assim nos desencorajar a sair. Funcionou comigo, mas não com minha irmã - que saía de qualquer jeito, e ainda arrumava namorado.
Ah, como eu sonhava ter um tamanquinho francesinha! Todas as minhas amigas ostentavam os barulhinhos do tamanco pela calçada, pelo clube, pelas ruas... E eu só fiquei na vontade. Juro que se um dia esse tamanco voltar a ser vendido nas lojas, compro um e saio andando para lá e para cá, só para sentir aquele barulhinho gostoso saindo de meus pés!
"Quem sou eu?"... A pergunta persiste. Sou talvez ainda a "maria trançuda", que era assim como me chamavam na escola. Ou a "menina que tem medo de gente", que era assim como me chamavam em casa...
... Sou a "aeronauta", que é assim como agora me chamo. "Quem é a aeronauta"? Não sei, juro que não sei quem é.
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2 comentários:
Minha mae tb costumava vestir eu e meu irmao mto mal, caramba q roupas ridículas, bem anos 80, pochete, uns óculos coloridos, camisa d quadrinhos, ridículo, é mal d mãe
Ai, Mulher Alada, e o meu sonho era uma sandália melissa transparente. Então, quando pude (ela voltou à moda recentemente, de novo), eu comprei várias, de várias corres e fui imensamente feliz, até descobrir que não posso usar calçados de plástico, porque tenho alergia. Bom demais sempre te ler! Beijos. Mônica
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