Fiquei dois dias assistindo ao filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. Nesses dois dias vivi no preto e branco das roupas do sertão esturricado de Monte Santo. Queria, assim como aquele povo, que o sertão virasse mar. Delirei em círculos com o beijo de Rosa e Corisco ao som da Bachiana número 5 de Villa-Lobos. Cantei o cordel, ora lento, ora triste, ora movimentado, ora trágico, na voz do cantador-narrador. Segui a estória até o fim, e depois voltei ao início. Várias vezes. De novo Rosa, de novo Manuel, de novo Deus, de novo o Diabo. Os monólogos teatrais de Othon Bastos, na pele de Corisco, são um espetáculo para ser ver sozinho, no escuro. Para que o coração sinta, com mais força. Ah, e a ambigüidade de Antônio das Mortes, o matador de cangaceiro! O remorso no homem que não tinha "santo padroeiro" é para se ver várias vezes através do olhar misterioso de Maurício do Valle. Além da lucidez, serenidade e força das personagens Rosa e Dadá... Filme espetáculo, rosiano, doce, terrível...
E no final encontramos o mar... Encontrando também, nas entrelinhas da genialidade glauberiana, a unidade na complexidade daquilo que chamamos Deus e Diabo. Que chamamos Homem.
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2 comentários:
"Glauber, rocha que voa". Li isso em algum lugar, não lembro onde. Aeronauta, é bom demais te ler, é bom demais voar com você. Beijos, Mônica
Assisti Deus e o Diabo... em Brasília, durante a Mostra Gláuber Rocha, entre julho e setembro de 1985 (que foi o período em que estive lá, como um migrante nordestino que não deu certo no Plnalto Central).
Não lembro o nome do cinema, mas era uma grande casa de cinema na Asa Sul.
Já tinha lido muito sobre Gláuber, mas nunca tinha visto um filme seu. Esse foi o primeiro, inesquecível e impactante filme que vi do Gláuber. E na (i)modéstia opinião, o melhor.
The Best!
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