sexta-feira, 13 de novembro de 2009
ciranda
Vida sem exagero é coisa sem graça. Vida sem metáfora é leitura de jornal. E a dor da gente não sai no jornal, sabiamente arrematou Chico. Desde pequena, portanto, invento minha vida. Por isso Dona Celé, nossa vizinha beata da infância, me contava histórias tenebrosas de santos - pra que eu tomasse tento e parasse de mentir. As folhas das carambolas lá do quintal sempre foram dinheiro, cédulas vivas e verdes, para comprar o mingau das bonecas. Tinha tanto dinheiro nessa época. E minhas bonecas, além do mingau, muitas roupas. Que mãe costurava, acreditando em tudo.
Como viver sem imagens, sem escavar o imaginário e de lá tirar uma casa, toda feita de chocolate? Ah, tantas casas tenho. Invento vestidos vermelhos, culpas que não nasceram, verdades inatingíveis e ocultas. Aqui tudo é de brinquedo, ainda guardo muitas cédulas, e meu pé de carambola nunca morre. Não, não se assuste, entre na brincadeira; é uma ciranda tão linda, é uma ciranda tão bela, é uma ciranda eterna...
Imagem: "Ciranda", por galeria TiD.
(Imagem: www.flickr.com)
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10 comentários:
Belo belo. Cheguei a me arrepiar. Entendo demais nosso "mundo".
Nauta,
Sempre terna, sempre bela!
É isso, ê mundo bom de viver. Tenho uma pena horrível de quem não fantasia. De quem não inventa.
Pôxa! Que beleza! Que infância! Que criança viva e pulsante.
No fundo, a gente é sempre assim: exagerada e jogada aos próprios pés.
Ê maravilha!
Bem aventurados aqueles que imaginam!
Beijos
não me assuto,
antes, me encanto e entro na sua brincadeira.
"Como se fora brincadeira de roda - memória."
beijo
Como você fala com propriedade. A vida é fantasia!!!
simplesmente fechei os olhos e pulei pra dentro da ciranda que vc puxou.
Vê-se que a literatura, como o sangue que corre em tuas veias, oxigena o teu corpo, a tua vida. ABrçs
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