domingo, 1 de novembro de 2009
estranhamente firme
Não que eu esteja engordando, mas aqui dentro, aqui, sinto-me com mais peso, e isso não me incomoda. Pelo contrário: parece-me que colocaram um apoio nas pernas, assim como fazem numa mesa que vacila. Sinto-me sólida, acho que é isso, sólida, firme, estranhamente firme. Decidida a permanecer, a olhar, a ficar. A nuvem evanescente, a líquida fragilidade de brisa, a lírica e extenuante fadiga - tudo, tudo condensou-se. O chão - mais compacto, o ar na medida certa, você na mesma altura que eu. Posso olhar o seu olho sem esticar o pescoço. Braços finalmente fortes, posso lhe mostrar o corpo, sem vergonha ou medo. Nem preciso encolher a barriga, ostento as pernas, o olho vesgo, os pés tortos, a composição íntima de minha mais extrema imperfeição. Sinto-me, sei não, uma casa pronta, inteira, cheia de varandas, janelas, painéis, teto desenhado com guirlandas de igrejas.
Imagem: "lá dentro, aqui fora", por dreamland.
(www.clickr.com)
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14 comentários:
Ai como eu queria me sentir assim!
que texto lindo!
Faz pouco tempo que coloquei o poema "A Mulher e a Casa", de Cabral, na postagem sobre os 10 anos sem ele. Você se faz casa neste texto, no que dialoga com Cabral de forma magistral: a própria mulher se dizendo casa, assim como o poeta já a descreveu como casa. Foi MARAVILHOSO!
Que maravilha! Ainda não me sinto assim, firme, mas fico muito feliz por você! Um beijo.
Ter consciência de si mesmo... talvez seja isso o chão?
aeronauta no seu melhor estilo. mais um texto maravilhoso. se sente assim de fato, apesar de "estranhamente", que bom que esteja sólida.
É muito boa essa solidez. Um dos melhores textos que já li por aqui. Sinto bons ventos soprando. :-)
Demais esse texto. Sólido!
Aero, obrigado pelo comentário sobre os trabalhos de minha mãe. A exposição ficará aberta de quarta a sábado de 16h as 20h e domingo a partir das 14h. Se o portão do teatro estiver fechado basta tocar a campanhia que os funcionários atendem. A abertura hoje foi linda!
Angela Wilma, este seu texto é bonito. Fico feliz que você tenha aterrissado, sei (desde há pouco tempo) como isso faz bem a nós, afinal, somos bípedes implumes. Você voará sempre que quiser. Sem precisar desintegrar-se em nuvens. Sabe disso, não é?
Abraço grande, tava com saudade do seu blog.
Obrigada pelos seus comentários no meu blog. São fortes quando vêm de quem a gente admira. Grande abraço!
Nunca me sentí assim. Deve ser bom demais...
Amiga, estou ficando repetitiva. Mas, que texto LINDO!
Essamenina... são textos "corridos" e são poesia pura!
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