Perdoe-me,
minha avó,
o olho grande da menina
diante de tua boneca
batizada e crismada
como se gente fosse,
cheirando a alfazema
sentada no guarda-louça.
Perdoe-me,
minha avó,
a usura da menina
diante de coisa tão linda:
Creuza, tua filha, boneca amada,
de cabelo penteado
e roupas da moda;
de sapatos pretos e meias
de renda.
Era a tua prenda mais querida.
Perdoe-me,
minha avó,
a ganância da menina
que tinha tantas outras
bonecas, ainda mais finas
Mas queria era aquela:
aquela, a rainha.
Perdoe-me,
minha avó,
Pela tua renúncia
Dando à neta pidonha
o que era mais precioso:
tu que já sabias
de tantas perdas nesse mundo.
Perdoe-me,
minha avó.
Sei que agora estás
no céu das bonecas
Ladeando Creuza, ressuscitada
dos maus tratos da menina;
Juntinhas, duas rainhas
sentadas no guarda-louça.
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4 comentários:
Tão belo. Tão fundo. Bjs
que inquietante!
duas figuras ternas como costumam ser as avós e as bonecas juntas e no céu causam-me mal-estar porque esse pedido de perdão ora parece liberdade ora parece abandono.
beijoss
Depois do comentário da Bípede, o que mais dizer?
lindíssimo!
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