quarta-feira, 4 de abril de 2012
meio down
Cheguei à época clichê de falar: "No meu tempo..." Pois bem, no meu tempo o que era belo era ouvir a dupla Kleiton e Kledir dizendo que, se deu para ti baixo astral, vá pra Porto Alegre, tchau. Hoje o que ouvimos são duplas horrendas; Bruno e Marrone, por exemplo. São tantas, e tão iguais na ruindade, que nem sabemos mais quem é quem.
Passando pelas lojas americanas na última segunda-feira, levei um susto quando me deparei com uma dupla de nome João Bosco e Vinícius. Será que é para apelar mesmo? O pior não é nada: é num domingo tedioso assistir a um tal de Teló, idiota de marca maior, ganhar na televisão um troféu com a melhor música do ano. A "música" tenho certeza: todos conhecem, não vale a pena recitar um trecho.
Gente, a sensação que eu tenho é que o mundo vai acabar.
Outra historieta: minhas duas grandes paixões, literatura e cinema, andam me rondando a um tempão para um deleite mais apurado. Ofereci nesse semestre a disciplina Literatura e Cinema na universidade. Passei dias e dias comprando muitos livros sobre o assunto, me dedicando, com um prazer imenso, a lê-los. Hoje, primeiro dia de aula. Sala 115. Chego. Abro a porta. Muitas cadeiras. Todas vazias. Espero. Olho o relógio. Nada, nenhum vivente. Daí fui saber no Colegiado se ninguém se matriculou na minha disciplina. Vi no papel dois inscritos. Soube depois que os alunos disseram que correrão de minhas disciplinas por que passo muitos livros para leitura. Ou seja, estão correndo dos livros. E agora, dos filmes.
Será que em Porto Alegre a coisa é diferente? É melhor talvez eu ir pra lá; tchau.
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13 comentários:
Fujo de expressões saudosistas como "no meu tempo..." ou "antigamente...", taí algo que aprendi com Woody Allen em Meia Noite em Paris.
Gostaria muito, Ângela, que você ensinasse na UEFS, assim eu e outras pessoas poderiam desfrutar desse privilégio: Literatura e cinema.
Costumo ler a revista Piauí, e na ultima edição li dois textos que me fizeram lembrar seu blogger, sua literatura: A poeta e a pedra e Ninfa dos bosques.
Quando puder, dê uma olhada. Segue o link: http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-66
Um abraço.
Correndo de livros e filmes indicados por você? Coitados. Eles não sabem o que estão perdendo. Bjs
Minha cara Ângela,
A música de Kleiton e Kledir de fato é linda. Eles, óbvio, formam uma dupla, que não é sertaneja. Adoro ouvir, por exemplo, “amo tua voz e tua cor”...; “vou ficar até o fim do dia decorando tua geografia”...; “tens uma beleza infinita e a boca mais bonita que a minha já tocou”... Essas frases fazem bem à alma.
Não obstante ser desde sempre seu fã, sinto de certo modo uma robusta dosagem de preconceito quando leio de você esse escárnio às duplas sertanejas. Sim, digo sertanejas, porque todas as citadas no seu texto são assim classificadas.
Brota-me na memória a advertência do fabuloso maestro João Carlos Martins, integrante do novo DVD da dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó. Lá ele se refere às pessoas da música clássica como gente de “nariz empinado”, referindo-se certamente a esse costumeiro e escancarado preconceito da maioria dos clássicos, intelectuais para com os sertanejos, brejeiros, interioranos, nordestinos, grupos aos quais ironicamente pertencemos.
Eu ainda contemplo o multiculturalismo. Claro que muita coisa da música, seja lá de que estilo for, soa muito mal aos meus ouvidos.
Mas, quando dá pra mim baixo astral prefiro ...”uma rede preguiçosa pra deitar” (...) “em minha volta sinfonia de pardais”... E claro, se possível, em Igatu ou em qualquer beira de nossos generosos rios. Lá em Porto Alegre, eu não passaria de um negro refugiado a mais. Isso não me alegraria, guria.
Abraços,
Anônimo I
Anônimo I, o sertanejo que ouvimos por aí está mais para o breganejo sem qualquer arte de que para o sertanejo primitivo; esse sim eu gosto de ouvir, de preferência num rádio de pilha de manhãzinha. Mas Teló, Bruno e Marrone e a multiplicidade do igual sem arte, quero é distância. No fundo sei que você pensa o mesmo, afinal já conversamos muito sobre isso. No nosso tempo Amado Batista e Roberta Miranda salvavam a lavoura. Bjos carinhosos
Ângela,
Provoquei você, não foi?
É que me deu saudade e aproveitei o ensejo para iniciar este bate boca que tem sido tão raro entre nós. Rs.
Também desconfio que no fundo, no fundo você não é tão fechada assim para o "brega". Afinal, o que é ser brega? Tudo depende de contexto, circunstância, etc.
Eu sempre gostei, por exemplo, das músicas de Roberto Carlos, principalmente as mais antigas, aquelas que falam das nossas coisas, dos sentimentos comuns e que parecem nos adentrar pelos poros. Mas quando estudante em Salvador, assumir tal predileção não era tão simples assim. A discriminação era impiedosa, pois além de minoria, eu era "apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior"...
Hoje eu entendo que o sentimento daquela gente não passava de um orgulho tolo de não "poder" expressar seu romantismo.
Não se zangue comigo. "Assim você me mata". Rs.
Abraços,
Té lo(go)!
Anônimo I
Oî, Anônimo I, adorei a provocação. Sinto saudade de nossas prosas musicais, artísticas. Adoro Roberto Carlos. Gosto do brega que tem arte. Sei que você também. Detesto o preconceito. Mas detesto mais ainda tudo que não tem arte, inventividade. Saudades d'ocê.
P.S.: Nos meus discos, denominados por não sei quem de brega, há Fernando Mendes, Marcio Greick, José Augusto ("De tanto viver pela vida sem rumooo"), Reginaldo Rossi: minha alma sempre transborda ao ouvi-los.
Que lástima! Eu doidinho querendo assistir pelo menos uma aula tua e fico sabendo disso!
Dê aula online que eu me matriculo.
Aeronauta!!
Felizmente tenho a mesma impressão:"Gente, a sensação que eu tenho é que o mundo vai acabar."
Imagine, estes alunos estão na Universidade, imagina os meus de Estágio supervisionado, que estão na escola regular?
Adoraria ser sua aluna não fugiria não...[risos] abraço apertado!!!
[um olá, não é um comentário]
Ângela,
Tudo bem? Tanto tempo que não passo por aqui...e não digo olá com meus comentários...é porque neste semestre "blogar" é luxo para mim. Então estou tão-tão na Universidade...que não sobra tempo para mais nada. Estou concluindo a graduação esse semestre.
Abraço apertado!!
Eles não sabem o privilégio que é ter a professora Ângela em nossa universidade!
Beijos,
C.N.C.
C.N.C., obrigada pelo carinho, tão importante esse carinho. Bjos
Será que esses garotos estão precisando de óculos?! Acho que vou emprestar os meus pra eles...assim talvez eles consiguam enxergar a beleza que perderam. Mas certamente, e num futuro próximo, outros tantos serão presenteados com sua riqueza Ângela. Abraço!
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