sábado, 21 de abril de 2012

moradas

quando vamos, é sempre o desterro a nossa morada.
a minha casa, por exemplo, não tem comida.
a minha casa não tem xícaras,
a minha casa não tem nada.

jardim? não, as folhas são secas
e as pedras que lhe enfeitam
vegetam, inanimadas.
Quase tudo aqui jaz perpétuo,
extinto, como os labirintos
sem qualquer importância
dada.

o que dizer aos móveis, às paredes,
à rede na varanda?
que o infinito é a terra
mais estranha?
que a ternura sempre engana
seu itinerário?

o que dizer ao telhado
inerte, me despertando?
ou à cama, me desvencilhando
sempre do mar?

ah, é sempre um desterro ir adiante,
é sempre um desterro morar.

2 comentários:

Adriano Alves disse...

Um olhar atônito sobre a realidade absurda e uma ausência que faz pensar na vida.
Com essa tua poesia bela e tocante, Vilma, me senti perplexo diante da materialidade do mundo,me senti morrendo.

Abraços.

Naiana P. de Freitas disse...

Estes versos,cheios de significação. me trouxeram um vazio intenso...ou compartilharam do meu vazio imenso..
os últimos versos["ah, é sempre um desterro ir adiante,
é sempre um desterro morar."] mesmo sem espada alguma acertaram-me em um golpe final...
lindo..
abraços!