segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

"... Dorme, inventado imprudente menino"

Este último dia do ano resolvi passar com a poesia de Hilda Hilst. Principalmente com "Poemas malditos, gozosos e devotos", livro que ela escreveu dialogando com Deus. Nota-se, em todos eles, uma emergência em chamar Deus à carne, às sensações, à vertigem de existir...
Transcrevi um poema que vai abaixo, a fim de que ele possa dizer a minha voz, a minha procura pela poesia, a minha busca pelo gostoso sono de Deus.

V

Para um Deus, que singular prazer.
Ser o dono de ossos, ser o dono de carnes
Ser o Senhor de um breve Nada: o homem:
Equação sinistra
Tentando parecença contigo, Executor.

O Senhor do meu canto, dizem? Sim.
Mas apenas enquanto dormes.
Enquanto dormes, eu tento meu destino.
Do teu sono
Depende meu verso minha vida minha cabeça.

Dorme, inventado imprudente menino.
Dorme. Para que o poema aconteça.

Um comentário:

Carlos Rafael Dias disse...

Para um deus ou um adeus...
Não sintamos saudade do nada
e de nada