segunda-feira, 24 de março de 2008

AMOR DADO DE GRAÇA

Eu te amo como amava meu pai e minha mãe
E minha casa, tão longe daqui.
Como amava as minhas bonecas, as folhas de carambola,
Que eu fazia de conta que era dinheiro.
Como amava escovar os dentes no rio quando chovia
E o Rio Gafanhoto amanhecia cheio.

Eu te amo da forma mais infantil, mais pura
Como na dura manhã em que fui para a escola
E morri de saudades de minha mãe.
Ou quando adorava ser voyeur
E ver meu pai tomando banho.
Ou melhor: quando mostrava a calcinha
para toda a família de Eugênio.

Eu te amo como a criança que fui e serei:
Insana, meiga, cruel, instantânea. E venho,
Sem nenhum pudor, te falar desse amor
Como quem toca o vento, ou simplesmente
Como quem vive, apenas.

2 comentários:

Antonio Sávio disse...

Perfeita poesia. Parabéns.

Kátia Borges disse...

O que dizer diante de tão derramado lirismo? Impossível não repetir os mesmos elogios, e tão derramados quanto. Bjs