segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ela


Está comigo há muito tempo.
Quando fico em pé, as pernas são dela. Os pés meio tortos, parece que se desequilibram, numa brincadeira. As mãos puras, numa inocência que não cede.
1977, vestida de japonesa, segurando um leque.
Quando me deito e durmo ela aparece. Nos sonhos, seu vulto aquece, indulgente, meus braços, na direção dos lagos. Somos água, desde que chegamos, corpo molhado de alfazema, em manhã de novembro.
Ela é tímida e terrível.
Lasciva, como vidros partindo/vermelho/nos dedos.
Ela te quer. O próprio pai. O próprio irmão. O próprio tio. Não tem medo do frio que escorre em tuas costas, do medo que estanca tuas virilhas, noivo que nunca poderá ser da própria filha.
Ela te quer, invencível.
Quando fico em pé, ela se ergue. Minhas pernas a identificam, sombra infantil de uma maturidade adiada. Vestida de japonesa, os pés meio tortos, fecha o leque e posa, dissimulada, para o retrato.


Imagem: "Menina", galeria de Orxeira.
(www.flickr.com)

11 comentários:

Nilson disse...

Uau!!!! Ela é demais!!!!

Anônimo disse...

Parodiando e completando Nilson. Ela e você são demais.

Bernardo Guimarães disse...

Pôxa!

Gerana disse...

Mais que demais... ambas.

Anônimo disse...

Quem será ela?

Ulisses disse...

Como diria você, aeronauta, a la Flaubert: "Ela sou eu", não um eu necessariamente biográfico(risos)

LÍVIA NATÁLIA disse...

Alterego. Lindamente alter.

Anônimo disse...

herica

Acho que estou reconhecendo ela.

Senhorita B. disse...

Super lindas!
bjs

Unknown disse...

Nauta que bom q vc mantem sua essência e vivacidade!

Anônimo disse...

Todos amamos ela, inda mais vestida de japonesa.