domingo, 16 de agosto de 2009

Domingo, 02 de agosto


Alguns deles ali, sentados na porta do restaurante, à nossa espera. Maria Sampaio, Marcus Gusmão e sua filha Luísa, e Nílson. Chegamos eu e Renata, juntas. Já conhecia Nílson através dos lugares-comuns e não-comuns armados pelo Destino. Tinha visto Maria Sampaio e Marcus, certa feita, de longe. Saber da existência de alguém virtual, notar sua presença em corpo físico, é uma emoção muito grande. E naquele finalzinho de domingo eu viveria isso, agora de perto, no lugar da outra. Nunca competirei com Aeronauta, ela já conseguiu - e muito bem - seu lugar no mundo. A chorona Aeronauta parece que sabe conquistar gente. Confesso que tenho dela um certo ressentimento, uma pontinha doentia de inveja. Porque eu, ah eu sou um desapontamento. Notei isso logo de cara, na porta do restaurante. Para esse dia resolvi comprar um vestido cor de rosa choque (quando o comprei, lembro que refleti: esse levanta até defunto), mas de nada adiantou. Ali nitidamente eu era uma intrusa. E me portei como deveria: no meu lugar. Uma intrusa boca fechada. Não sabia o que dizer. Dizer o quê, meu Deus? Disse umas besteirinhas para cada um deles, e entramos, sentamos. (A primeira vez que senti aquele negócio estranho que estava sentindo, foi aos seis anos, no meu primeiro dia de aula.) Marcus Gusmão, conversador nato, abriu a prosa, e a prosa ficou mesmo lá entre ele, Maria (linda!), Renata, Luísa e Nílson. Eu olhando para o oriente. Não, meus queridos, Aeronauta não estava ali. Quem estava ali era eu, euzinha, com aquele vestido cor de rosa choque, deslocadíssima. Vocês notaram? Oh, queridos, vocês são tão educados, nem riram de mim, obrigada, tá?
Decididamente eu e Nílson, mesmo estando frente a frente na mesa, não conseguíamos conversar. Isso porque somos dois tímidos refletidos. Aeronauta consegue tirar dois dedos de prosa de Nílson, mas eu, eu não. De repente chegou Marta e família. Marta, conhecida minha de mais de quatro séculos. Aí começamos uma prosa boa, de literatura, de escola, disso e daquilo. Claramente quatro grupos se formaram: Maria, Gusmão, Renata e Luísa; eu e Marta; Nílson e Haroldo, marido de Marta; e as duas meninas que vieram com eles. Fui ao banheiro, Marta e os seus foram embora, e Maria, perspicaz, notando minha falta de entrosamento, trocou de lugar comigo, me colocando no meio deles. Aí eu pude mostrar minha verve menina da ilha. Marcus Gusmão adorou. Viu que tenho a língua envenenada, gosto de comer carne de cristão. Maria se acabou de rir. Como gostei de Maria! Nílson também riu das besteiras que eu disse. A noite acabava. Na saída, nunca esquecerei o que ouvi de Maria:
- Gostei mais de você que de Aeronauta.


Foto de Maria Sampaio.

11 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Durante toda a leitura, pensei EXATAMENTE o que Maria disse: "gostei mais de você que de aeronauta".
Comigo, quando nos vimos,você não ficou calada nem deslocada hora alguma, conversamos como se o conhecimento já existisse há muito. Aliás, nós três ficamos muito bem, lembra?
Quanto ao q vc escreveu sobre Maria: eu tenho desde logo enorme simpatia e afeição por ela. Tenho vontade de abraçá-la.

Lidi disse...

Obrigada pelo comentário em meu blog. Você é que escreve muitíssimo bem. Um super beijo.

P.S: gosto muito da Aeronauta e adoro você!

Marcus Gusmão disse...

Maria é assim, gosta de gente. Eu, de imagens. Sempre estranho à primeira vista os artistas em carne e osso. Não porque eles sejam piores, apenas porque inicialmente são diferentes do que eu idealizo. Mas é só uma primeira impressão, porque mesmo com a conversa pouca as duas imagens vão se fundindo e no final a gente fica com o que está mais próximo do real, na soma e subtração de imaginação e realidade. Gostei de ter conhecido a Aeronauta, uma artista de verdade.

Eliana Mara Chiossi disse...

E eu, ainda querendo ver esse contraste, minha amiga...

Beijos

Senhorita B. disse...

Eu admiro e respeito muito a Aeronauta. Mas esse é um gostar mais formal, tem distanciamento, é uma relação entre bonecas de porcela.
Prefiro a outra. É com ela que quero falar ao telefone, dividir minhas preciosas futilidades. Ela tem de sobra algo que falta um pouco na Aeronauta: senso de humor.
Gosto muito de você e não dessa imagem criada de perfeição. Sempre preferi Caetano do que Chico. É o que sinto.
Bjs

Muadiê Maria disse...

Gosto de você há mais de quatrocentos anos. Você contém a Aeronauta e é mais que ela.
beijo

Jan Góes disse...

Ilario!!!!! Incrivel...sai de um mundo há pouco egocentricamente lirico e entrei aqui...num mar de egos partilhados....

Parabéns!!!

M. disse...

Aeronauta é você. Você é Aeronauta. Não consigo separar. Amo as duas.

Anônimo disse...

Estou chegando atrasadésima. Escreverei antes de ler os comentários para dizer de minha alegria inenarrável de aqui encontrar a "dona"(?), a "criadora"(?), a parceira... seria? Não sei. Encontrei a pessoa superbacana que conheci no encontro dos e-amigos e que desejo conhecer mais.
Confesso aqui que me atrapalhei quando a mesa se dividiu.Não éramos muitos, fantasiei uma conversa geral. Mas no final deu tudo certo.
Beijo, subirei para ler o post mais novo.

Nílson disse...

Eu, que fortuitamente conheci 'a outra' depois de ter virado leitor e interlocutor da Aeronauta, digo o seguinte: as duas são bem diferentes, é verdade, a começar pelo senso de humor e pelo apetite por 'carne de cristão'. Mas muito parecidas, também, quanto a esse sem-jeito de que aliás nós três compartilhamos. Também fico meio deslocado nessas situações, mas naquele dia me diverti bastante. Será ótimo que a Aeronauta deixe vc aparecer mais por aí. Ainda que vc deixe a Aeronauta continuar brilhando por aqui!!!

Anônimo disse...

E por culpa da distância geográfica eu sigo te desconhecendo, embora minha admiração por tua pessoa não careça disso.