quinta-feira, 23 de outubro de 2008


Ontem, aproveitando uma brisa inconstante que passava, grudei na primeira nuvem fofa e voltei. Cheguei hoje, manhã cedinho. Dormi, depois fui direto à LDM. Também com o coração aos pulos. Desde a entrada da livraria, aos vendedores, aos livros, tudo parecia conspirar uma felicidade clandestina, uma cumplicidade de mistérios. Ali estava o livro que Bernardo deixou pra mim. Cadê Edilson? Um vendedor vermelhinho (vermelho é a cor da farda deles) foi logo dizendo que Edilson tinha ido almoçar e só voltava às três da tarde. Pensei: tudo pra mim é complicado... Teria que agüentar minha expectativa e esperar. Livraria é algo extremamente perigoso: como não sei roubar, o jeito é pagar os livros que me chamam das estantes, me endividando. Resolvi sentar lá nos fundos, com um livro no colo, para esperar o homem. O homem que conhece duas pessoas que não se conhecem: o homem que sabe dos mistérios: Edilson. Engraçado, nunca Edilson foi tão importante pra mim; tenho a cara de pau de dizer que gosto de Edilson porque ele é o facilitador de minhas compras: sempre me dá vinte por cento de desconto. Hoje ele era um rei esperado. E amado. E o pior é que demorou pra chegar. Quando eu já embalava nas páginas do livro (Clarice diz que é preciso a gente viver distraído para que as coisas aconteçam) não é que vem de lá Edilson (estava era bonito hoje!) e me chama? Professora, aqui sua encomenda. Me entregou um envelope branco, cor das nuvens leves. Entregou e saiu com pressa, mal deu tempo de eu perguntar como foi o sucedido. Abri logo o envelope e vi um livro lindo, lindo. Edição primorosa. Capa belíssima de Maria Sampaio. Fui direto à primeira página. Nela, uma letra sensível e elegante dizia assim: "Amiga secreta Aeronauta: Para ler nas nuvens, onde são guardados todos os segredos. Que nosso mistério permaneça. Um grande abraço de Bernardo. 17.10.08." Como sou viciada em analisar discursos, percebi que ele sublinhou o "Aeronauta" e o "nosso". Achei a dedicatória tão bonita! Principalmente porque mais bonita que a vida é o mistério. Que se preserve o mistério, pois. Que as nuvens abençoem todos nós. Que abençoe Edilson, o que traz a chave.
Na saída, não me contive e perguntei: E aí, Edilson, ele perguntou alguma coisa? E Edilson: Não, professora, apenas... E contou tudo igualzinho ao que Bernardo falou no seu blogue. Fiquei em frente a Edilson, admirando-o, tentando tirar dele um fiapo do mistério que o rodeava, mas logo desisti. Com meu livro nas mãos, e mais aquele que havia comprado, peguei a primeira nuvem que passava. Agora estou aqui, lendo o livro de Bernardo e Judith com uma sensação clandestina de saber e não saber do mundo. Por entre as páginas consigo ver as marcas das mãos de quem se debruçou para escrever a dedicatória.

*Sobre a capa: ainda não sei escanear direito: esse negocinho verde que vocês estão vendo em cima é o marcador de livro que veio dentro.

12 comentários:

Unknown disse...

roxinha de ciúme... o livro do primo tem dedicatória e o meu não... um dia desses também navego numa nuvem!

Menina da Ilha disse...

Essa história ainda vai acabar em livro. Belos textos(dos dois).

Maria Judith. disse...

Fiquei emocionada, professora!

E quando você terminar a leitura onto a história das duas últimas cartas

Maria Judith. disse...

Ah, e sobre o fabuloso trabalho de Maria Sampaio e as fotos de Celinha Aguiar, era para sair tudo mais bonito, mas como sempre acontece nas ocasiões importantes, eu merdeei tudo. A gráfica me enganou, e sairam umas coisinhas estranhas.
O bom foi tomar bronca de Maria, por escrito e em forma de dedicatória, no próprio livro, prova de minha incompetência para detalhes. Prometo postar em breve. Vale e pena!

Bernardo Guimarães disse...

Professora:
tive de ler duas vezes seu post para acreditar que a Aeronauta estava fazendo um post para mim. A prima teve ciúmes!...
Como disse, nem sei o que escrevi na dedicatória, o "estado de nervo" estava atacado e a sua análise do discurso está perfeita.
Apenas se divirta, para isso e tão somente para isso Morte Abjeta foi feito. Eu e Judith, ao menos, nos divertimos. Outros colegas bloguistas tb receberão os seus exemplares,mas sem mistérios!
Grande abraço.

- Luli Facciolla - disse...

Boa leitura, querida Aeronauta!
Esse é um dos meus livros de cabeçeira. Me faz rir como poucos!

Beijos

Nilson disse...

Todas essas escaramuças dão um livro, sim, e com esses textos primorosos e esse mistério envolvendo tudo. A situação toda já é pura literatura. Engraçado que tô me sentindo personagem, tb. Figurante, mas que seja!

Senhorita B. disse...

Vim deixar um bj!
Renata

Isa Lorena disse...

O meu no seu
e vice-versa.

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Maria Judith. disse...

Ó, eu já ia postar aqui uma reclamação pela demora na leitura. Já achava que a professora estava odiando o livro, que já tinha desistido de ler o resto da história e estava sem coragem de dizer, que ia ficar só na última carta, o que seria uma injustiça para com Bernardo...
Mas entretanto, depois dos demais comentários que li , dos outros amiguinhos, fiquei com vergonha da reclamação que teria feito, da qual desisti.
Prefiro pensar que a professora gostou tanto que está lendo outra vez. :)

Anônimo disse...

Ops, em que galáxia vc está, Aérea Persona? Tou com ciúme. E o banho de rio? Abr. (carlos)

sandro so disse...

Continuo te lendo leve.