
Tenho um aluno de nome Gilberto. Nunca vi sorriso mais largo. Alma mais aberta. Olhos que brilham tanto. Gilberto gosta muito da vida. Ele nunca para de rir. Sempre. Em todas as ocasiões. Até quando falamos da morte vejo nos seus olhos uma sombra festiva. No primeiro dia de aula Gilberto se apresentou. Contou, para toda a classe, com um sorriso de orelha a orelha, que estava vindo da roça, e que no início ficou receoso de não ser aceito ali na universidade. Que o palavreado dali era diferente, mas que na roça ele tinha lido vários livros. Gilberto sabe muitas coisas; ontem nos contou tudo sobre o arco-íris.
Na apresentação que fez, com os colegas de sua equipe, sobre a poesia de Francis Ponge, coube-lhe o pão. Trouxeram uma cesta enorme, cheia de pães, e mostraram para a turma os alpes, as montanhas, habitantes da visão panorâmica daquela coisa que comemos todos os dias sem olhar. Tal qual Ponge, Gilberto tomou o partido do pão como o mais sensível e competente dos advogados. E contou, na segunda parte da aula, morrendo de rir, o quanto foi interessante sua pesquisa. Primeiro porque teve a ideia de ir perguntar a um amigo seu, padeiro de muitos anos, como era a experiência de fazer pão. E que o amigo lhe disse que não sabia responder isso, pois nesses anos todos nunca tinha prestado atenção nessas coisas. Nessa hora a risada de Gilberto foi mais ampla, plena, como o aluno que aprendeu - com a mais profunda de sua sensibilidade - tudo sobre a vida.
Imagem: "Sorriso negro", por Fabit's.
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