terça-feira, 19 de maio de 2009

Leve


Pouso, suavemente, no chão. Estou aprendendo, aos poucos, a pousar e não cair. Antes me agarrava à nuvem e não queria vir. E, quando era obrigada a descer, me jogava de lá e me estatelava no chão, de qualquer jeito, como quem quer morrer. Hoje, desço por vontade, e molho os pés à beira do mar, de leve, de leve... Hoje até parece que quero viver. Até insisto em permanecer por um, dois dias, sentindo o vento bater nos pés... A felicidade é que aprendi a melhor maneira de descer: fechar os olhos e esquecer o susto; ter o justo sentimento de nada ter, nada, nada, corpo de neve a se derreter... E a paciência de polir as perdas, as asas inutilizadas, como quem sequer espera, sequer deseja...


Imagem: "Leveza do ser", por Suellen Martins.
(www.flickr.com)

8 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Muito bonito, quase um poema... talvez seja.

Janaina Amado disse...

Me idetifiquei completamente com este lindo, sensível texto. Acho que também estou aprendendo a pousar.

Anônimo disse...

Gostei, Aero! Gostei MESMO.

imonizpacheco disse...

Que poema! Gostaria de tê-lo escrito.

Vivz disse...

"... ter o justo sentimento de nada ter... E a paciência de polir as perdas, as asas inutilizadas, como quem sequer espera, sequer deseja...".

Esse, definitivamente, é o segredo da felicidade.

Nilson disse...

"corpo de neve a se derreter" é demais. Gerana tem razão. É um poema. Dos bons!

Bernardo Guimarães disse...

cada dia gosto mais de ler vc.

Edu O. disse...

que poesia!!!!