Vivi com ele sete anos.
O número sete, cabalístico, convence mais na vida que na literatura.
E o que estou contando é algo próprio da vida, nitidamente real. A literatura não conseguirá pernoitar o que aconteceu. Quero aqui tratar de confissão.
Na minha vida usei duas alianças. É, duas. Uma era meio moderna: tinha umas fissuras por fora, enfeitando-a. No dia em que a ganhei sonhei com um sapo. Nada demais. Havia lido Bufo e Spallanzani. Essa aliança viveu duas vidas diferentes. Na primeira de maneira desconfortável, pois que o dedo estava gordo. Na segunda, acabou caindo no ralo do chuveiro enquanto eu tomava banho.
A outra aliança que usei foi por demais solene. Tinha o nome dele por dentro. Nunca a tirei pra lavar pratos: sabia que era de ouro, não corria risco de desbotar. Ficava linda no meu dedo: vi isso numa remota fotografia, enquanto era homenageada na sala de aula. Um aluno me abraçava e a aliança ficou bem na frente, cheia de aura, iluminando a cena.
Exatamente sete os anos que vivemos. Por isso é confissão. Se fosse literatura, repito, não convenceria. Ficaria presunçoso, arrogante, pretensioso. E eu estou confessando: vivi com ele sete anos. Não há nada demais nisso, é cabalístico apenas, próprio da vida. E dizer isso não é coisa de mulher. Homem diria também. Ele, por sinal, diria melhor, e de maneira romântica, enquanto que estou sendo crua.
Aliás, quero, nesse relato, ser crua. Todo e qualquer romantismo me apavora. Vestida com um tecido cor de rosa, casei no fórum, num dia de semana. Ele chorou na hora de me dar a aliança. Nas fotografias, demonstro uma vida estranha nos olhos, uma vida que nunca tive; vida real. É, aconteceu de verdade, isso é uma confissão.
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17 comentários:
Uau!
Amo passar por aqui!
Beijos
Só quem entende muito da vida e da literatura pode escrever um texto assim.
Excelente, excelente, excelente,
excelente, excelente, excelente,
excelente!
O que posso dizer?
De boca aberta!
bjs
Percuciente!!!
Abraços!!!
Maravilhosa confissão! Adorei!
lindo, que texto lindo, amiga.
"sete mil vezes eu tornaria a viver assim/ sempre contigo transando sob as estrelas..."
Vi seu comentário no blog da Janaína e fiquei curioso. Que texto alguém que os conhece tão bem teria elogiado? Vim correndo ler, curioso. Puxa, quanta qualidade. Tive que me conter para não acrescentar alguns pontos de exclamação.
Beijo
esta confissão foi mais forte que a minha, quando da primeira comunhão ( rs...)
Muito! Isso é literatura de mão cheia, embora a voz da narradora insista em dizer que não se trata de literatura. Bravo!!!
Isso é uma confissão. Isso é uma beleza.
Com você, Aero, confissão é também literatura!! Um beijo!!
"uma das alianças
tinha umas fissuras por fora"
adorei essa...
xaxuaxo
nada de romantismos, aeronauta...? ah... me deixe, viu? bj, sandro
Não gostei de você ter postado uma foto MINHA sem autorização e sem ao menos me conhecer.
Não gostei de você ter postado uma foto MINHA sem autorização e sem ao menos me conhecer.
Cara Jasmine:
Postei a sua foto com crédito. Estava no flickr. E acredito que estando no flickr, sem endereço, é impossível pedir autorização. Como você não gostou, faço questão de apagá-la.
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