Não entendo como as coisas e as casas desaparecem.
A casa de meus avós maternos, por exemplo, desapareceu
não de uma vez, mas aos poucos, frente ao mesmo céu
azul de dia claro
de quando íamos visitá-los
em domingos quase eternos.
Desapareceu a imensa sala, o pote ao fundo;
a cama de minha avó, com o retrato de Raimundo
ainda criança, na penteadeira tão velha
com a poeira inteira caindo.
Desapareceu o quarto medonho
com as camas grandes, assombrando
qualquer um de nós, pequenos e grandes.
A cozinha imensa, com a louça brilhando
de tão limpa, e os copos de alumínio
com os nomes de seus donos.
Desapareceu tudo, até o fogão de lenha
E perto dele, minha avó agachada
pitando seu cachimbo.
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6 comentários:
Lá em casa a casa também desapareceu...
beijoss
"Essas recordações me matam"...
Acho horrível não ter mais esses cenários e essas pessoas em minha vida. Pra mim, essa falta é quase um aleijão.
Abraços,
Anônimo I
não sei se efeito da idade, mas as velhas lembranças estão retornando! Lembro mais da minha avó comendo uvas e fazendo crochê do que aquilo que eu almocei ontem. E lembrei, te lendo, do meu copo de alumínio com nome gravado, que eu levava na lancheira da escola ( lancheira de couro)!
abração
A casa dos seus avós está para sempre resguardada neste lindo poema. Bjs
Aérea Persona, poemas assim despem a feiura das perdas. Parabéns pela construção de beleza que você faz no blog e nos livros. Abr (carlos barbosa)
Queridos amigos: o que seria de mim e de minha poesia sem os vossos olhares tão amorosos? Abraços a todos.
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