O amor nos faz bobos. Improdutivos. Sem linguagem. Ou com linguagem verbosa. Diante da pessoa amada, há braços demais, e uma falta de assunto então... Daí nascem pérolas, como aquelas que a literatura trouxe para nós, inesquecíveis:
* Macabéa, coitada, diante de seu amado Olímpico de Jesus, não tinha lá muito o que dizer; aliás, ela não tinha, de nascença, palavras. Num certo passeio sob a chuva (ele dizia que ela só sabia chover), pararam diante de uma loja de ferragem "onde estavam expostos atrás do vidro canos, latas, parafusos grandes e pregos". E Macabéa, com medo do silêncio grande que se formava entre ela e o seu amor, tratou logo de puxar assunto:
"- Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?"
* Coronel Ponciano de Azeredo Furtado, coronel de patente, nos seus dois metros de altura, enfrentador de tudo que é bicho do mato, de cobra a lobisomem, verboso que só ele, mesmo sendo famoso "mulherista" queria por queria encontrar amor, pois que descobriu que seu viver "vivia a pedir costela". E afinal encontrou: Dona Isabel. Desejoso de "amamentar" conversa com a senhorinha, professora da cidade grande, o coronel Ponciano entrou numa "inquirição desgovernada":
"- Vossa Mercê já foi mordida de cobra?"
"- Dona Isabel já viu a pessoa de um boitatá?"
E etc, etc, etc.
Ah, o amor e sua terrível subordinação à linguagem. Sabemos bem sobre tudo isso. E a literatura mais do que nós. Está tudo lá, nas suas devidas páginas, principalmente o que vem nesse texto sob os auspícios das aspas: em "A hora da estrela" de Clarice Lispector, e "O coronel e o lobisomem", do maravilhoso José Cândido de Carvalho.
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8 comentários:
Como uma lâmina fora da bainha, o amor queima, entonteia, burila, emfim, uma coisa de doido(rs). Meu nome é Thiago Lins(www.revistaentreaspas.blogspot.com)e é um prazer, minha cara. Aquele abraço. P.S: hithcock_1899@yahoo.com.br
lindo. o amor tira as palavras da gente. daí eu recorrer às reticências de vez em quando. levo a algumas personagens algo de mim -e eu me calo muitas vezes. nem tudo deve ser dito. incrível como clarice & outros gênios fazem do que é dito algo tão bonito.
Hahahahahah, adorei! Sabe o que O Cara do Casamento perguntou à Personagem Principal minutos antes de beijá-la pela 1ª vez?
- Qual o doce que vc mais gosta?
Esses dias num desses dias assim, pergumtaram-me, durante um silencio ensurdecedor:
pra que time tu torce?
é pra acabar com qualquer tentativa de amor, não?!
gostei de ler-te.
Bjs
Luiza
Gente, vamos resolver o assunto: apresentemos Macabéia a Ponciano, e pronto. Acho que Clarice e Zé Cândido deveriam ter escrito este "romance" a quatro mãos... Mas aí não nos dariam estas maravilhosas verdades, que são "A hora da estrela" e "O coronel e o lobisomem".
gostei do teu blog voltarei sempre mesmo.
mas e pq tinha q ser Clarice mesmo??
O amor e a literatura nos tornam tão vulneráveis...Me calo diante da beleza dos teus escritos.
Beijos,
Renata
Olá! Mas, o amor é isso e mais aquilo, não?
É a navalha cortando a carne...
abraços,
O Sibarita
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