Pela alma choramos.
Procuramos a alma.
Queríamos alma.
(Cecília Meireles, no poema "Anatomia")
Tua alma foge a todos os encontros. Rodopia pelas ruas que acolhiam tua infância e nunca mais quer voltar. Tua alma muda de lugar, a todo instante, a todo momento, por isso é tão difícil a ti te acompanhar. Estás quase que completamente perdido, como todo mundo, e a voz de Cecília ecoa nos teus ouvidos: "É triste ver-se o homem por dentro:/ tudo arrumado, cerrado, dobrado/ como objetos num armário./ A alma não." Tua alma não vem, não adianta eu ir buscar. Deixemos ela lá, no imprevisível de um sopro que o tempo possa exalar.
Quem sabe um dia terei mãos de vento e dedos de nuvem e assim conseguirei tua alma tocar? Quem sabe um dia não toparei com ela nas ruas de tua infância e roubaremos juntas as frutas da vizinhança? Ou, quem sabe, nas andanças de um redemoinho eu possa a ela dar o braço e trazê-la de volta para cá?
Não, nunca conseguirei tal façanha. Tua alma, intermitente e vária, pertence à vigília das solteironas que, debruçadas nas gretas das janelas, sonham encontrá-la.
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2 comentários:
"Corpo, cárcere da alma"
Puxa, quanta inspiração! Dois textos lindíssimos em um único dia. Estou sem fôlego. Parabéns, mulher alada, e beijos.
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