Porta e janela estavam sempre de frente para a rua e dentro de casa. Ou melhor, da sala da casa via-se, com a porta e a janela abertas, o mundo todo, as pessoas passando, a chuva caindo, e, ainda mais, as mangueiras da casa paroquial. Era assim, como chamavam antigamente: casa-de-porta-e-janela. Na janela eu me apoiava para timidamente saber o que se passava na rua: quando chovia, uma ou duas pessoas saltando as poças d'água, com um guarda-chuva na mão; um carro azul, todo molhado, indo para a praça principal; um som de Waldick Soriano saindo de algum outro local, bem perto... Era assim. E porta e janela tinham trancas, pesadas trancas. Firmes. Quando faltava luz e chovia muito, fechávamos tudo. E ficávamos, todos mudos no sofá, iluminados por um candeeiro no corredor. Ninguém conversava. Mãe proibia, por causa dos relâmpagos. Ela saía cobrindo todos os espelhos da casa. Por causa dos relâmpagos.
No outro dia, chuva que passa, tanajuras na calçada. E muitas borboletas. Amarelas, entremeadas de cinza. Pétalas perdidas. Da janela eu avistava todas elas. Com a porta fechada, eu nem imaginava como seria bom tê-las deixado entrar, para sempre, dentro de casa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Pra variar, mais um belo texto da "nossa" infância.
E eu, quando os espelhos permitem e não se recolhem nos armários, ainda os cubro por temor e por respeito às lembranças de minha avó. Que bela imagem!Soraya
Postar um comentário