segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Os amarelinhos


A alegria de enxergar seu nome impresso numa capa de livro pela primeira vez é algo para nunca esquecer. Principalmente quando temos vinte e dois anos. Recebi pelo correio e quando abri o pacote foi uma coisa extraordinária, virei criança. Era uma manhã de sábado, e saí pulando pelas ruas, tal qual Clarice, quando menina, pelas pontes do Recife. A capa toda amarela..., e a amiga que a desenhou logo batizou os mil exemplares, que eu iria receber pelo correio, de "os amarelinhos da rayovac". Era promessa de livro pra não acabar nunca mais. Poderia fazer lançamento na região toda, por trezentos anos seguidos, e os livros não acabariam. Como de fato ainda não acabaram, e não acabarão.
Toda semana chegava uma leva que, coitado de pai, tinha de pagar para sair do correio. Assim que eu ia lá e retirava uma caixa, já recebia o aviso de outras chegando. Mãe não agüentava mais, dizia que aquele monte de caixa dentro de casa só iria atrair escorpião. Minha irmã ria com aquele aluvião de amarelinhos, invadindo quartos, despensa, banheiro, sótão, etc. E dinheiro que é bom - com a saída dos ditos cujos para mãos de leitores pagantes -, nada.
Foi aí que eu descobri como é esse negócio mesmo de publicar livros. É uma felicidade intensa e solitária. Mas é uma felicidade, e intensa. Que importa se não compraram todos os mil exemplares (oh, que audácia)! Que importa se os vendi para quem nem os abriu! Que importa se eles continuam dormindo no mais fatigante silêncio... Que importa! E que importa se fiquei viciada, querendo mais e mais mil exemplares, e guardando mais e mais caixas? Que importa?
Ah, mesmo que um livro nunca seja lido, nunca seja aberto, nunca tenha sido tocado, a sua existência enquanto forma, materialização, já vale toda uma vida humana.


Imagem: "os menores livros do mundo", por Emir Filho.(www.flickr.com)

7 comentários:

Anônimo disse...

Vontade de conhecer o seu amarelinho... E que venham muitos mais livros seus. Bjs

Unknown disse...

Isso é coisa se faça, Aero? Conta do livro mas não podemos nem pensar em pedir o trânsito via seu fulustreco da livraria da Piedade porque revelará a sua identidade! Ó céus! vontade de ler.
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Engraçado... como fotógrafa eu nunca me importei se mais ou se menos ou se ninguém veria minhas fotos. Mas como escritora meu desejo é que o maior número de pessoas leia o que escrevo. Eu não sofro para escrever nem escrevo para mim mesma. Escrevo com grande prazer e quero ser lida.

Senhorita B. disse...

Quero um livro!
Bjs

Muadiê Maria disse...

Eu quero um!

Anônimo disse...

Eu entendi direito? Todo esse tempo e ...ai de nós, Maria Sampaio tem razão, ninguém poderá saber qual livro é? Terei de ler todos os amarelinhos? Ai amiga, não seria o caso de pedir mais mil?

aeronauta disse...

Oh, meus queridos, os amarelinhos estão guardadinhos. Deixemos eles lá. Bjos.

Marcus Gusmão disse...

Também sou candidato a um amarelinho. Quer uma idéia? Cubra seu outro nome com o nome Aeronauta, cubra o título antigo por outro e nos envie por fulustreco da livraria. Que tal?