domingo, 31 de maio de 2009
Tudo sobre a vida
Tenho um aluno de nome Gilberto. Nunca vi sorriso mais largo. Alma mais aberta. Olhos que brilham tanto. Gilberto gosta muito da vida. Ele nunca para de rir. Sempre. Em todas as ocasiões. Até quando falamos da morte vejo nos seus olhos uma sombra festiva. No primeiro dia de aula Gilberto se apresentou. Contou, para toda a classe, com um sorriso de orelha a orelha, que estava vindo da roça, e que no início ficou receoso de não ser aceito ali na universidade. Que o palavreado dali era diferente, mas que na roça ele tinha lido vários livros. Gilberto sabe muitas coisas; ontem nos contou tudo sobre o arco-íris.
Na apresentação que fez, com os colegas de sua equipe, sobre a poesia de Francis Ponge, coube-lhe o pão. Trouxeram uma cesta enorme, cheia de pães, e mostraram para a turma os alpes, as montanhas, habitantes da visão panorâmica daquela coisa que comemos todos os dias sem olhar. Tal qual Ponge, Gilberto tomou o partido do pão como o mais sensível e competente dos advogados. E contou, na segunda parte da aula, morrendo de rir, o quanto foi interessante sua pesquisa. Primeiro porque teve a ideia de ir perguntar a um amigo seu, padeiro de muitos anos, como era a experiência de fazer pão. E que o amigo lhe disse que não sabia responder isso, pois nesses anos todos nunca tinha prestado atenção nessas coisas. Nessa hora a risada de Gilberto foi mais ampla, plena, como o aluno que aprendeu - com a mais profunda de sua sensibilidade - tudo sobre a vida.
Imagem: "Sorriso negro", por Fabit's.
(www.flickr.com)
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10 comentários:
grande gilberto! grande sorriso. sabe tudo!
Que bom que você voltou, e com um texto tão lindo sobre o seu aluno. Adoro ser professora por conta destes encontros, destas descobertas, destes aprendizados. Amo te ler. Beijos, Mulher Alada. M.
Oi, Aeronauta!
Seu texto me deixou com uma saudade de meus alunos... Já tive alunos assim como o seu Gilberto. Nossa! Quanta saudade dessa troca de experiências. Minha vida em sala de aula deixou mais prós do que contras, mas decidi trilhar outros caminhos. Quem sabe um dia retome minha vida com Gilbertos. Ê, saudade!
Que sorte, a dele, ter uma professora sensível e que estimula os alunos a enxergarem poesia no mais cotidiano pão. Parabéns.
Viu? Não disse que eram apenas férias?
Lindo texto. Como sempre.
Bjs
Vivá Gilberto.
Vivá Aero! Voe, voe muito!
Aeronauta, adorei o post. Acabo de me formar em Letras Vernáculas e é bom pensar que poderei ter alunos como Gilberto, que me ensinarão sobre a vida. Um beijo.
Que lindo, Aero. Obrigado pela leveza e beleza neste dia.
Sábia, essa história de Gilberto com o padeiro e, para além dela, sagaz o encontro entre aluno e professora. Devem ser ricas essas suas aulas!
Ah Gilberto! Já sou fã!!
Beijo
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