quarta-feira, 17 de junho de 2009
Estribilho
Drummond já gritou essa angústia antes de mim, oh bem antes, em 1942: "Tenho tanta palavra meiga,/ conheço vozes de bichos,/ sei os beijos mais violentos", porém "estou sozinho no quarto,/ estou sozinho na América". "Companheiros, escutai-me!", reforço o grito, em estribilho. "E nem precisava tanto", repito em tom menor, para que a cidade continue seu movimento, e minha solidão não afete o trânsito às três horas da manhã. Precisava apenas de dois goles de refresco, daqueles de antigamente, preparados numa jarra doméstica. Precisava de um amigo que lesse versos de Bandeira, influindo delicadamente "na vida, no amor, na carne." Precisava de um bocejo de sono, secreto e dialogando com o meu. Tenho um 'carinho louco' formigando na pele, nos dedos, nas unhas; um olhar de ternura reservado em cada canto dos olhos fechados; um abraço cravado e morto no próprio peito.
Imagem: "Solidão", de Robert Portuguá.
(www.flickr.com)
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7 comentários:
Receba este meu abraço vivo pelo seu belo texto.
bjs
Pelo texto que acabo de ler e por outros textos (todos) sinto uma prosadora de mão cheia. E é a única coisa que sei com segurança: reconhecer um talento verdadeiro.
Compre um cachorro daquele tipo bem babão.
Sinto-me tão perto de ti. Beijos
Oi, andei meio afastada dos blogs. De volta, li o texto anterior, lindo, e este aqui, tocante. Muito legal. Beijos
Já vim aqui reler essa postagem umas três vezes e não sei o que comentar sobre esse seu texto. Não tenho mais adjetivos para demonstrar minha admiração. Corro o risco de parecer superficial demais, afinal estou ficando muito repetitivo, mas a culpa é toda sua.
Bjs
Aero, assim como aconteceu com Renata, me deu vontade de te dar um abraço! Sinta-se abraçada!
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