segunda-feira, 12 de janeiro de 2009


Há de restar algo para que a vida seja celebrada. Abrir a janela e colocar um pano de crochê e um jarro de flor, como fazemos na nossa terra para esperar a procissão. Vou providenciar então um pano de crochê diáfano, e agora mesmo um jarro de flor. Às quatro horas da tarde a procissão passa, as mulheres cantam avé avé avé maria, o andor tremula sob os passos dos carregadores, todos vestidos a rigor.
Há de restar algo para que a vida seja celebrada. Há de restar. E nesse algo os amigos todos lhe surpreendem com as luzes apagadas e um parabéns pra você. Uma vela tremula num bolo de chocolate, as palmas são muitas, a vela vai apagar, cuidado. Você sorri, os abraços lhe apertam, há um mistério e um amor. Não, nem tudo é solidão: nas luzes que se acenderam você viu muitos rostos - não eram simulacros - sorrindo, sorrindo, cantando.
Há de restar... A vida se repetindo, dia após dia, como refrão. Há de restar...


Imagem: "Festa de São Lázaro", por Roberto Faria. In: www.flickr.com

3 comentários:

Nilson disse...

Celebrar a vida. É algo pra não se esquecer. Belo texto, diáfano como você pensou. Bela foto.

Bernardo Guimarães disse...

seu texto é como sempre:perfeito.
Há.
Há, sim.
A vida, por si, há de ser celebrada.

Anônimo disse...

Aero, acho que vc nunca tomou um banho de pipoca, ou foi na Igreja de São Lázaro... Agora chegou a hora de vc celebrar a vida.
Concordo com Nilson.
Abigail