CLARIDADES
Amar é para onde vou, minha vocação absoluta.
Veja a renda de meu vestido, toque-a, não há luta
nem armadilhas: apenas um vestido rendado.
E essas flores, e esse campo aberto, e esses teus dentes?
Deus, vejo Deus, nesse intervalo entre mim e o sentimento
de semelhança contigo, rindo e comendo as sementes
que nos plantam um no outro, sem qualquer retorno.
São prodigiosos nossos encontros por dentro
como quem da rosa não tira os espinhos, e fura os dedos
com o vento; e nada entende de poesia nem de semeadura,
mas faz da ternura coisa farta, enchendo a mesa de uma grande casa.
Percebes que não há diferença entre um homem e uma mulher e Deus?
Cósmicos, nos encontramos vivos sem sabermos a que veio
essa tarde; e, maior, essa claridade crescendo vívida em nossa carne.
(Poema antigo, escrito antes de mim, no século XVIII. Brincadeira: escrito por mim em dezembro de 2009)
Um comentário:
O seu poema me fez lembrar de quantas e tantas angústias que regem a nossa existência...quando no fundo o que nos consome, nos ataca e estimula é sempre o AMOR. Lindo, Ângela! Parabéns!
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