terça-feira, 25 de junho de 2013
comoção
Tenho imensa comoção por teus olhos.
Teus olhos imersos em luz, mas que se apagam
com a frequência dos vaga-lumes:
nunca ficam todo o tempo brilhando.
Tenho verdadeira comoção por ti,
cordeiro manso, indo ao encontro de um Deus
que não alcanças; mas o interpela de perguntas
que Ele nunca te responderá, apenas o escuta.
Tenho terna comoção por ti, irmão da vida,
do mesmo destino sem abrigo, sem permanência,
nós dois, transitórios, sempre sabendo da morte,
tu sem medo, eu com medo: fortes, nem nos abraçamos
para compreender tudo isso, esse mundo em que estamos
submergidos sem qualquer pedido anterior lembrado:
existências e mais existências comovidos
e destruídos, como papéis rasgados.
Imagem: Alain Delon em cena do filme "A primeira noite de tranquilidade", de Valerio Zurlini (1972).
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