terça-feira, 11 de junho de 2013

sobre as águas



45. Mudanças no aspecto físico, obviamente. Orelhas: pendem com o brinco. Pescoço: quando gorda, com dobras; quando magra, com pequenas pelancas que se movimentam, como puxa-puxa, quando você fala. Braços: se você fez ginástica a vida inteira, vai ter músculos; claro, se não fez, vai ter sobras: não ligue em dar adeus com vontade! Olhos: ao redor, se desenvolvendo muitas vezes até a face, pés de galinhas de quintal bem articulados, bolsa nos olhos com uma ligeira melancolia roxa chamada olheiras: não se importe, é algo poético, charmoso. (Pior é sempre o botox, corra dele.) Bochechas: caem, caem, óbvio; mas quando você ri elas suspendem: mais um motivo para sorrir, sorrir sempre, seu rosto fica sem aquela marquinha caída debaixo das respectivas bochechas, que sempre parecem tristes. Cabelos: agora frágeis, os fios vão parar no chão do banheiro e descem no ralo, indo embora, para esgotos, talvez. E os fios brancos, aqueles mais rebeldes que despontam fazendo chifres na cabeça? Tem mulheres que arrancam esses rebeldes com ódio. E pintam os outros brancos, pintam de preto, pintam de outras cores, morte declarada aos fios brancos, malditos! (Não, aceito tudo, mas fio branco é demais!) Os seios: há, os seios ficam outonais, há quem goste de outonos... líricos... A barriga com afluentes e pedras amolecidas, dessas que rios antigos passaram muitos e muitos anos sobre elas... As pernas sustentam essa mulher, repleto de marcas. Maduro, seu corpo é um mapa, sobre as águas.

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