Não somos namorados
desses que se encontram no portão
sob o olhar do lampião de antanho,
mas como queria poder assistir
contigo
"Candelabro italiano":
nós dois
montados numa lambreta
a passear pela antiga Roma...
Ah, e "Casablanca"?
Beijaria tua boca enfim
o beijo da década de quarenta:
lábios apenas se encostando,
e o espanto dos olhos entremostrando
nosso solene e lindo drama.
Não somos namorados
mas queria assistir contigo
"Os melhores anos de nossas vidas".
Depois, só nós dois
e Doris Day cantando
"Que sera, sera"
no mais lindo filme de Hitchock;
e para assombrar um pouco nosso presente
iríamos ao futuro com Bette Davis
naquela personagem velha e cega
de "O Aniversário"; preservaríamos
como amuleto, a bela Bette de "A malvada".
Iríamos, jovens, aos futuro, para
passar a "Meia-noite em Paris";
sem deixar, após, de visitar a Fontana di Trevi:
serias Mastroianni buscando o gato
para Elza, não para Anita;
Serias Fred, um velho argentino e
não o jovem Marcello, italiano.
Hoje, nesse dia, namorado de mentira,
estás pelas ruas, solitário,
como o homem magro de Clarice
a tocar violino na esquina
que Suzana Amaral não aproveitou.
São tempos de igrejas
e não de cines;
de filmes e não de fitas...
Onde, digas, construiremos
nosso "Cinema Paradiso"?
Estamos em pleno "Inferno n. 17"
e "Antes do amanhecer",
inexoravelmente, não mais existiremos.
Imagem: Cena de "Casablanca" (1942)
3 comentários:
Muito lindo!Parabéns!
Obrigada, Vera! Abraços.
Não tenho o background dos filmes que cita, mas mesmo assim pude adentrar na atmosfera que projeta/ou em seu poema...fora a crítica bem pescada:"São tempos de igrejas
e não de cines;"
abraços
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