
A empregada de minha irmã chegou anteontem aqui em casa com uma encomenda. Foi entrando e eu a atalhei com a seguinte conversa:
- Sicrana, você quer quanto pra lavar aquela pia de pratos?
- Oh, dona Fulana, não cobro nada não.
- Não, Sicrana, sou justa, não gosto de explorar as pessoas. Quanto?
- Cinco reais, dona Fulana.
Pois é. Na pia constavam: três xícaras, três pratinhos pequenos, um prato grande e alguns talheres. Caro? Também achei. Mas o mundo é dos exploradores e não dos explorados preguiçosos.
Hoje quem chegou aqui foi mãe. Veio, como todos os anos, passar meu aniversário comigo. Pedi pra ela a clemência, a caridade cristã de lavar aqueles pratinhos do café pra mim, pois que vou nascer amanhã (vide inferno astral) e não consigo fazer nada do lar. Achei tão engraçado ela dizer, depois que terminou a tarefa:
- Menina, seu coador está fracassado!
E eu, sempre dramática:
- Resta saber o que é que não está fracassado nessa casa!
Esse detalhe do coador me lembrou uma história antiga. Fui comemorar o reveillon de 1999 na minha terra e sem mãe lá pra cuidar de mim. Ela resolveu passar as festas do fim de ano com minha irmã, aqui em Salvador. Levei para as Lavras, a tiracolo, dois amigos que gostam de fazer turismo. No primeiro dia, depois de andarmos o dia inteiro pelas cachoeiras, chegamos cansados e doidos por um café. Procurei o coador. Mãe tem manias de esconder coisas quando viaja. Nunca entendi o motivo. Pois dessa vez ela escondeu bem-escondido o coador. Procurei, procurei e nada!! O pior é que o telefone estava quebrado. Aí me lembrei de um cartão telefônico que eu tinha... com dez unidades apenas. Fui correndo para o orelhão da praça. Era um domingo. A praça estava cheia.
Disquei e ela atendeu.
- Mãe, rápido, tenho apenas dez unidades. Responde ligeiro: onde está o coador?
E mãe, com a voz mais mansa do mundo:
- Ô menina, por que você não ligou a cobrar?
- Responde ligeiro, mãe, as unidades estão acabando, onde está o coador?
- Por que essa agonia toda? Você está ligando de onde?
- Do orelhão, mãe!!! Mas onde está o coador?
- Do orelhão de que lugar?
- Ai, Senhor! Só tem uma unidade! ONDE ESTÁ O COADOR???, gritei como louca.
Só deu tempo dela dizer:
- Dentro da panela...
Aí foi-se a última unidade.
O povo todo da praça acompanhava a história e se acabava de rir. Teve até um senhor de paletó que me perguntou se eu não queria aproveitar tal "mote" pra fazer uma propaganda da telemar.
Mas, a pergunta final: E o coador?
Não achei. Eram muitas panelas pra encontrar um único coador escondido; ou melhor, fracassado.
Imagem: www.flickr.com. Fotografia de Liráucio