sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Meu aero-amigo


Meu aero-amigo Murilo Mendes está aqui, próximo ao computador. E ele me diz ao pé do ouvido sua "Ceia sinistra":

Sentamos-nos à mesa servida por um braço de mar.

Peço pra ele calar nesse primeiro verso. Não desejo ouvir os demais, muito menos ver os fantasmas que querem cear.
Mas faço, isso sim, ainda valer a sua voz para roubar-lhe a autoria, dublando-a descaradamente:

Então eu nasci na onda aérea,
Na idade mais recente do ar,
Me desliguei das camadas de ar,


Aqui suspendo o último verso.
E sentando-me à mesa servida por um braço de mar, junto a meu amigo, ouço pela milésima vez esses versos fatais, vindos das ondas, soando como marteladas numa senzala invisível:

Tu não carregaste pianos
Nem carregaste pedras,
Mas na tua alma subsiste

- Ninguém se recorda
E as praias antecedentes ouviram -
O canto dos carregadores de pianos,
O canto dos carregadores de pedras.



Imagem: www.revista.agulha.nom.br

3 comentários:

Anônimo disse...

Minha aérea amiga, um feliz 2009 pra você, que encheu meu 2008 de poesia. BJ

Janaina Amado disse...

Ah, Murilo Mendes é incomparável, obrigada por me deixar ler seus versos de novo!
PS - Vc. me faz um favor, se estiver por aí? Lê meu último post no acreditando e me deixa um comentário lá? Postei faz pouco, e estou tão inquieta! Por favor.

Nilson disse...

Viajei no diálogo. Grande Murilo!