sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Distante da moda


Desculpem, o tempo é de noel, pingüins e presentes. E o texto que segue é mórbido, mas deve haver uma similaridade. Começa pela pergunta que coça agorinha na minha garganta: como é que se vinga do mundo? Aproveita um fusquinha que vai passando e se enfia entre seus pneus doces? Ou não seria melhor se enfiar nos pneus nada poéticos de um coletivo pirracento, como "praia do flamengo", que só chega no ponto de três em três horas? Não; anonimato, e menos ira, por favor.
Com Macabéa foi involuntário: e o Mercedez era amarelo, "enorme como um transatlântico", carro "de alto luxo"! Morreu sonhando, a pobre Maca.
Hoje olhei diversos carros na rua, e nenhum me pareceu digno de qualquer último ato. Uma caçamba! Que tal? Nele iria todo o lixo do mundo, no qual me incluo, e seria depositado no fim dos tempos, com o sol fazendo cócega numa manhã insistente e insípida... querendo, chatíssima, mais uma vez surgir.
Oh!, perdoem minha dor. Minha incapacidade de existir. Há muito tempo descobri que odeio Polyana: as duas - a criança e a moça. Não gosto de jeito nenhum da bestajada do jogo do contente. Perdoem, e não deixem de me amar por causa de tão obsoletas palavras: sei que a moda é ser feliz. Mas nunca consegui ficar na moda. Minhas roupas atravessam séculos, e tenho um espartilho e um chapéu antigos guardados com suave cheiro de um passado jamais colhido.
O pior é que, de novo, noel invade as ruas com sua roupinha vermelha antipática. Como odeio noel de shopping iludindo aquelas criancinhas no seu colo! Todos os noéis deviam ser presos, algemados. Já pensaram numa cela cheia de vermelhinhos? ô, ô, ô.
Perdoem minha tirania. Assim como vocês, tenho vontades de esganar todas as falsas alegrias de final de ano. Todas as falsas alegrias de viver.
E de tirar de dentro da garganta essa próspera vocação para a infelicidade.


Imagem: "Morbidez", por Manuteix. In: www.flick.com

7 comentários:

Anônimo disse...

Putzgrila, Aérea Persona. Mais um texto em que vc arrasa em verdade e beleza. "Pneus doces" foi demais... e realmente há similaridade nesse artificialismo noelino e em qualquer outra morbidez a escolher. Vamos enterrar esse tempo brumoso e rasgar o véu de um novo tempo, nem que seja dentro de nós. Sucesso, torço demais daqui. Abr. (carlos)

Bernardo Guimarães disse...

Também me desagrada profundamente o Natal; odeio o revéillon mais ainda, e com toda a força que tenho. Fico pirado com gente que se veste de branco naquele dia e faz cara de cachorro que corre atrás de carro.

Marcus Gusmão disse...

ô,ô,ô. Já imaginou o calor que ia fazer uma cela de 5 m2 com 30 gordões enfiados naquelas roupas de seda vermelha e cobertos de algodões? Prendia tudo em outubro e só soltava em janeiro.
O diabo é que além da alegria, bondade, e meiguice natalinas, tem a perguntinha automática e obrigatória de elevador - onde você vai passar o reveilon?. Sem falar nos trezentos milhões de amigos secretos, outras confraternizações obrigatórias, justamente num mês em que você tem que fazer tudo o que não fez no ano inteiro até o dia 20. Pra uma pessoa enrolada então...
De fato, dezembro é um senhor teste de resistência e uma chatice sem fim. Mas se a Aeronauta não resistir e der um del na existência, vai ficar mais chato ainda. Segura a onda, que passa.
Por falar nisso, onde você vai passar o Carnaval?

Unknown disse...

o kalundu dezembrino já havia me pegado antes de ler texto e comentários de hoje. Xô kalundu. Viva São João.

aeronauta disse...

Carlos: obrigada, sempre.
Bernardo: seu humor me salva, diariamente.
Marcus: "Onde vou passar o carnaval?" Em qualquer lugar que não tenha trio elétrico.
Maria: que tal fazer poesia do calundu? Estou tentando.
Beijos a todos.

Menina da Ilha disse...

Pelo jeito vou ser excluída do grupo. Depois de Vinícius, aprendi a gostar do Natal, a enfeitar a casa e até da Ceia com direito a tudo que uma mesa natalina tem direito. Ele me ajudou a arrumar a árvore e quando viu as luzes do pisca, repetiu pelo 9ª vez(todo ano ele faz tudo sempre igual) que é a árvore mais linda do mundo.Aqui, até o papel higiênico tem cara de natal. Fujam de mim e da minha casa para não ficarem enjoados.E já estou me preparando para vestir branco e ficar com a "cara de cachorro que corre atrás de carro". Melhore seu astral e ascenda a sua luz interna que vc vai ver como vai ficar legal mesmo com essas festas que vc detesta.

KImdaMagna disse...

Não só perdoo, como avançarei sobre quem ousar não lhe perdoar.
Sugestiono só QUE as próprias Renas como guardas deles ( dos "Pais Natales")ficarão.

Xaxuaxo