sexta-feira, 14 de junho de 2013

"Antes da Meia-Noite"


 
Uma decepção o filme! O que Antes do Amanhecer e Antes do Por-do-Sol traziam de beleza filosófica, existencial, plástica, sonora, Antes da Meia-Noite desfaz. Não desfaz completamente porque, graças a Deus, os dois primeiros filmes são impecáveis e continuarão assim. Já esse, coitado, esse é um xingamento ao cinéfilo. O filme começa com Jesse (lindo, aos quarenta e um anos), levando o filho do primeiro casamento ao aeroporto e conversando com ele,  enquanto Celine (linda também, com a mesma idade) esperava-o no carro, juntamente com as duas filhas gêmeas. A conversa de Jesse com seu filho foi atrapalhada com minha gastura por conta do bilhete perdido, minha mente não lembra quase nada desse diálogo. Mas quando Jesse volta e entra no carro para viajar com a família para a Grécia, aí sim é que meu juízo apertou. O que vi foi uma Celine verborrágica, chata, reclamando de tudo. E eu que já estava com o juízo apertado, foi dando um nó e sentindo vontade de sair do cinema. Cena longa, o carro em movimento, Jesse ainda inteligente e espirituoso, num contraste terrível com aquela mulher falastrona e reclamona. Quando finalmente chegam à Grécia, continua a chatice do converseiro, agora com um monte de gente numa mesa. Dai-me paciência, Deus, quase saio da sala! Três pessoas saíram, e antes do final mais duas (a sala estava quase vazia). Nunca vi tanta pobreza de conversa! Nem eu conversando com minhas amigas falamos tanta bobagem. Cadê aquele diálogo profundo de Jesse e Celine dos dois primeiros filmes? Foram para o esgoto da relação familiar. Aqui é que o filme morre de vez. O diretor repete a fórmula do diálogo andante (o de Viena, maravilhoso, o de Paris, idem) agora pela Grécia, os dois conversando até chegarem a um quarto de motel. Só que o que ouvimos é de uma pobreza constrangedora. Se o diretor quis ser fiel à realidade, mostrando que “todo” casamento cai na rotina e se estraga, foi incoerente consigo mesmo ao propor algo diferente nos dois primeiros filmes. Ora, todo amor que dá certo tem que virar uma droga daquela? Até a palavra “cagar”  sai com raiva da boca de uma Celine ciumenta, amarga e enraivada por ter sido mãe apenas, enquanto Jesse ficou famoso como escritor em suas turnês pelo mundo. Jesse salva a cena sempre: inteligente, maduro, espirituoso. Por que o diretor fez questão de acabar com a personagem inteligente que foi Celine nos dois primeiros filmes? Por que a mulher tem que ficar, depois de anos casada, descrente e sem tesão? Por que os casamentos têm que ser transformados na mesma coisa? Com os dois primeiros filmes, o diretor tinha tudo para mostrar não a comum realidade sem imaginação e repetitiva do comum casamento, mas a credibilidade no aprendizado do amor, que se faz com o cotidiano, com a rotina. Era esse o desafio dele. Não conseguiu. Transformou dois personagens apaixonados e apaixonantes em duas pessoas corriqueiras; só não digo medíocres porque salvou Jesse. Mas pergunto: por que ele fez de Celine um estereótipo? Celine, sensível, inteligente, linda e culta que conhecemos nos dois primeiros filmes, se transformou num ser deplorável: ciumenta, dona de casa, mãe de gêmeas, frustrada, e sem qualquer sensualidade. Uma tristeza. Assista ao filme, assim mesmo. E se, por acaso, como aconteceu comigo, você “perder” o bilhete, não compre outro, vá embora. O bilhete que não se perdeu foi um aviso.

 

3 comentários:

O Neto do Herculano disse...

Então que venha "Antes da Madrugada" em 2022.

Sandra Pereira disse...

Eu assisti aos dois primeiros e para mim, "Antes do amanhecer" foi sempre melhor. Talvez porque eu tente entender, a duras penas, que a impossibilidade deve ser aceita. A tentativa de tornar determinadas coisas possíveis acaba por matá-las.

Sandra Pereira disse...

Finalmente Ângela, assisti como queria, a trilogia, sem interrupções. Bom...concordo contigo quanto aos elogios dos dois primeiros filmes. Concordo também com a crítica a uma Celine frustrada. Porém, complexa, pra não dizer problemática, que seria o termo usado pela maioria dos homens comuns, ela sempre foi...rs. E o Jesse, sempre mais leve, atraente, sexy, amoroso, menino. A adulta era ela! Ele, sempre divagou na adolescência pertinente aos homens apaixonados. O momento que o filme destaca porém, é um momento de crise no casamento dos dois. Talvez esse ponto tenha sido o escolhido para que nós, espectadores, possamos perceber que, até os relacionamentos mais apaixonantes e com pessoas apaixonadas, correm o risco de decair em uma crise. Perceba que a ausência de Jesse é citada pela Celine, uma certa falta de atenção para com ela, talvez. Até um caso extraconjugal é mencionado. Eu achei interessante o foco. Não o entendi como o fim fadado para todo casamento, mas sim como uma passagem que até o mais encantador dos amores pode passar...pode passar. Aí talvez esteja a diferença entre eles e todos os outros casais que quando chegam nesse ponto, chegam a conclusão de que não se suportam mais e rompem com sua história. A fala do Jesse pertinho de terminar o filme é muito interessante. Ele chama a Celine para a realidade. Conto de fadas não existe. Quer seja por ela, quer seja por ele. Quer seja pelos dois. Os momentos de romantismo e amor eterno se exaurem sim com o cotidiano. Resta saber o que fazer depois que isso acontece. O que fazer para que o desgaste seja o mínimo possível. O que fazer para preservar a mínima pétala da flor do amor sexy, vigoroso, ardente. No fim do filme fica a dica...reconstrução...exercite uma outra leitura, reinvenção. Construa com o outro novas formas de exercitar o prazer em estar junto. E que lindo o Jesse tentando fazer isso para a sua eterna amada. Beijocas minha querida escritora.