sábado, 22 de junho de 2013

Canção diante do abismo


A um passo do abismo
É só você me abraçar, bem forte
e cantar aquela música de João,
ou Jobim,
Uma bossa nova.
Irei, sem vacilar, contigo
cair lá no fundo, sem perigo
algum, sem perigo algum.

Deus se aproximará com suas asas
etéreas, como quem retira as feras
de dentro de si, e as manda
de volta ao mundo.
Deus, e nós dois.

A um passo do abismo
É só você me abraçar, e entoar
outra prece, mais outra, se preciso.
Falarei poesia, a fim de subtrair
tanto cálculo, indo à altura
de sua alma girando sem cura,
sem qualquer apoteose, e abrigo.

Cairemos juntos no abismo
Loucos amparados por anjos
tocando Bach, em piano e violino
em concerto universal, vivos, plenos,
sentindo que um passo a mais ou a menos
poderá nos levar ao total desaparecimento
de nós mesmos.



Imagem: Cena do filme "Um corpo que cai", de Alfred Hitchcock (1958).

3 comentários:

Lidi disse...

Linda poesia-canção, Aero! E a imagem de um dos melhores filmes do velho Hitch combinou bem demais! Bjs

Lidi disse...

Reli e continuo relendo essa poesia, essa canção, essa prece! Que coisa mais linda! Encantada aqui, Ângela. Você é uma poetisa que admiro demais. Ansiosa já pelo seu "Livro das preces". Bjs

aeronauta disse...

Oi, Lidi, obrigada. Tenho tanta coisa na gaveta clamando publicação! Mas sou tão lerda (Mayrant me deu umas dicas, mas sou tão preguiçosa).
Fico feliz por você ter gostado do poema!
Bjos