sábado, 8 de junho de 2013

chove


O que queres de mim, Senhor? Que eu sofra, que eu me liberte, o que é que queres de mim? Já bebi todo o cálice, já me autoflagelei, já perdi amores, e estou só. Sinto que te afastas de mim para a prova maior. A prova da solidão absoluta. Vou aceitar essa prova. Só não aceito a culpa. Não, não tenho culpa, não tenho. Não quero a culpa, sempre fui eu mesma, na busca de uma integridade com o outro. Sou distraída, talvez essa seja minha única maneira de magoar pessoas, sem querer, sempre sem querer. Mas nunca sequer roubei uma flor. Busco ser humana, só isso, em perpétua cruz; aquela mesma para a qual te condenaram. Estamos todos na tua cruz, sofrendo horrores, e eu não quero mais sofrer. Quero apenas escrever. Para escrever preciso descer da cruz, pois não salvarei nem minha humanidade, como Tu salvaste a de tantos e tantos. E eu só consigo salvar minha pobre humanidade escrevendo. Também não quero mais a doença: quero o rosto corado, a esperança nos olhos, o amor no corpo. Quero a vida.
Com essa prece, saio de uma cidade chamada Facebook, e volto para casa, para minha nuvem, pois aqui escondidinha sofrerei menos. E como está chovendo muito, poderei misturar minhas lágrimas com a chuva, ninguém precisará notar que choro. Chove.

6 comentários:

Dario B. disse...

Não se desgaste. Alguns sentem a chuva, outros apenas se molham. Bjo.

Unknown disse...

Quando li seu texto lembrei de uma crítica de um dos livros da Lispector que dizia que na maior parte do tempo, apesar do consolo das palavras, estamos todos largados.

Lidi disse...

Aero, me sinto tão triste ao saber da sua tristeza, da sua solidão. Mas Deus há de ouvir a prece aqui posta, dolorosa e linda prece, como só uma poetisa delicada como você seria capaz. Bjs

Savio Vaccarelli disse...

Segundo o Leminski, "...não me toquem nessa dor..." e tem muitas delas que carrego como doces lembranças, porem adorei a tua postura..."Também não quero mais a doença: quero o rosto corado, a esperança nos olhos, o amor no corpo. Quero a vida."...Força no caminho!

aeronauta disse...

É isso, Sávio, chega de lamber feridas! Abraços, meu Anjo da Guarda! Obrigada por tudo!

aeronauta disse...

Lidi, obrigada pela força amiga, sempre. Bjos