Que Deus preste atenção nessa minha vontade de dormir. Com apenas alguns intervalos de leitura. Nada, nada de obrigação pra fazer. Corrigir provas? Para quê? Quero a solidão. Desliguem meu telefone, meu interfone, todos os fones que existem. Para que tanto fone? Para que tanta comunicação? Se por baixo da mais impura superfície Deus corta todos os fios de conexão? Há um vazio, só Deus e poucos sabem, um grande vazio, que os sorrisos mais gratos não percebem. Há gratidão no mundo, e disso os anjos riem; dão imensas gargalhadas. Tudo lá é empolado, eles satirizam, e fazem versos, a la Gregório de Matos. Tudo é mesmo uma grande palhaçada, sinto vontade de falar mal dos dois mundos, e panfletar que o melhor mesmo é dormir. Corrigir provas? Que elas me esqueçam, fujam de mim. Lavar pratos? Que eles se quebrem todos, um por um. Ah, vestida como a louca dos tempos, subverto a ordem do universo com os olhos fechados, e decreto o mais infinito dos feriados.
Imagem: "Me encanta oirte dormir", por Paco Martos.
(www.flickr.com)
4 comentários:
Não corrija mesmo nenhuma prova, nem lave pratos. Nem faça nada do que não queira, ao menos por um dia e mais um... Escolha 3 ou 4 para falar além do incomunicável, preencher uma mão inteira para isso costuma ser luta em vão... Mas acorde, Aero, insisto, acorde! De que serventia teria o sono, recheado de sonhos ou não, não fosse para indicar desejos que só na vida podem encontrar terra fértil? Acorda e vem. Te espero.
Bj Guilhermina
Eu também quero isso pra mim às vezes. Beijos, Moça Alada que transforma toda nossa prosa em poesia. M.
Escreve bem, vc. Talento é algo que sente ao ler um texto: explicações sobre ele resultam em blá-blá-blá inútil. Repito:vc escreve muito bem. Estou fã.
E durma e faça o que quiser. Quer algo melhor do que a liberdade?
Oi, Aeronauta, respondendo a tua pergunta: foi no post "Conversando no divã II" de 2007. Estou lendo teu blog do início e estou gostando de tudo por aqui. Um beijo.
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