sábado, 11 de abril de 2009

Isso não é um diário


Nunca pensem ser tudo o que escrevo uma tentativa de autobiografia. Há muita mentira no que conto. Minto, sim, descaradamente, para que minha vida não seja tão cinza. Quero que vocês fiquem sabendo disso para que eu possa me sentir mais à vontade com as várias personas, com as várias narradoras, com os diversos eu líricos, com as mais insuspeitadas mentiras que tenho vontade de contar. Assim, poderei fazer disso aqui, finalmente, um confessionário às avessas; dizendo muitas verdades no despistamento da mentira.
Sei que muita gente que me lê nesse blogue não me conhece pessoalmente. Isso não faz diferença: tenho vergonha, uma vergonha contínua. Sou uma mulher, já sem tranças no cabelo há muito tempo. E estou exposta. Claro, por vontade própria, mas exposta. Por isso preciso da cumplicidade literária: para me livrar do peso da confissão. Acreditem: nem tudo que eu conto aconteceu de fato. Uso um adorno, uma virgulazinha a mais, uma metáfora mais límpida ou mais cruel, ao meu gosto, que isso aqui nunca vai ser o diário da Lulu.
Minha vida é sem graça, essa é que é a grande verdade. Não acontece nada de interessante, a não ser um ou dois livros que leio durante o dia, entre um tédio e uma amargura. Sei que vocês não gostam de ler coisas tristes, principalmente num blogue, algo feito para distrair e amenizar. De vez em quando, prometo, trarei um ou dois casos da parentalha e vocês rebolarão no chão de tanto rir. Mas só de vez em quando. Porque não posso mentir sempre. Não posso. Mas minto. Olhem só que paradoxo. É isso, sou um paradoxo, palavra bonita e besta demais, talvez ela me salve.
Porém, saibam, guardo a sete chaves o maior dos meus segredos, é bom que eu diga. Nunca o contarei aqui. Não, não é nada relacionado a minha cara, coisa que, assumo, tenho medo de mostrar aos que não me conhecem. Não é nada disso. É mais profundo. É mais arriscado. Se eu contar posso perdê-los, enquanto leitores, para sempre. Por isso, como um palhacinho de circo, faço gracinhas à toa, para agradar: invento tolices, poeminhas em prosa, diários da luluzinha. Mas minto, minto, minto. Minha irmã sabe e pode comprovar: desde os sete anos sou uma exímia mentirosa. Por essa razão me mandaram para o catecismo - para purificarem a mentira que já tinha penetrado para sempre em meu espírito.
Portanto não acreditem em qualquer segredo; é mentira, não tenho segredo; crio apenas, nesse momento, um enredo, um engodo, para distrair minha vida do mais completo desespero.


Imagem: "Diário". In: www.google.com.br

7 comentários:

Bernardo Guimarães disse...

e nós adoramos suas verdades,suas mentiras, histórias, medos,tudo como escreve. minta, minta mais mas continue a nos contar suas mentiras, não nos poupe de nada.

Anônimo disse...

não considero que mente quem escreve ficção. Não mente inventa... e inventar no papel, não é para qualquer um.
Entonces, essamenina, vamos à invencionice. É lindo inventar.
Há nada melhor do que sentar, por exemplo, no buzu ou numa sorveteria e ir olhando as pessoas e inventando a vida delas?

imonizpacheco disse...

Se você quer chamar essas delícias de mentiras, minta mais. você é uma grande mentirosa!!!

Anônimo disse...

Oxi, e acaso mente quando diz verdades de suas personagens? Amo tuas mentiras então!

Eliana Mara Chiossi disse...

Sabe, se você de fato, explicitamente permitir, gostaria de postar este texto seu, para tentar explicar aos meus leitores do Mundo que eu não sei exatamente onde estou lá.
Beijos e este texto me deu uma alegria: da nossa afinidade!

Livia disse...

A vontade mesmo é de por este texto num out-door, talvez assim, os maus leitores, os professores de quinta (categoria), os fracos de espírito, principalmente eles, iriam entender as distâncias necessárias entre as nossas letras e as nossas vidas.

Nilson disse...

Pois então a Aeronauta é uma fingidora, fingindo tão completamente... mas afinal quem não é assim, mesmo não escrevendo blog nem nada? Atire a primeira pedra quem não chega a sentir que é dor, etc, etc. Tb adoro suas histórias e essa sua persona!