sexta-feira, 3 de abril de 2009
na amplidão
Há quase um ano a casa esvaziou-se. Ele foi embora. O que restou dele mandei para a portaria de seu novo apartamento. Diria, de maneira piegas, que o coloquei dentro de um carro de mudança e o despachei para outra vida. Uma vida melhor. Não sou boa companhia. Na maior parte do dia vivo no outro mundo, e ele nunca entendeu isso. Tentou várias vezes - com ternos apelos - me tirar de uma nuvem bem alta, logo pela manhã. Saía para resolver as coisas na rua e quando voltava eu continuava lá. Tentava o dia inteiro, em vão. À noite dormia sozinho, enquanto que eu, na amplidão de uma nuvem vazia, fazia minha cama. Não, não sou boa companhia. Oh, ele tentou de tudo pra me trazer de volta a esse mundo: não conseguiu. Fez o que é mais difícil: me amou sem limites. Eu gritei e devolvi esse amor. Não tenho salvação. Solta no espaço, só um outro braço sem esperanças pode me alcançar.
Imagem: http://sonhos.thais.zip.net/imagens/cama_desfeita.jpg
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8 comentários:
belíssimo texto. Tou sem fôlego!
Grande texto, Aeronauta.
Belo relato...
Abs,
Lindo! Triste...
Saudades, Nauta!
Bjs
Aero,
o rapagão ao lado da rapariguinha eu em foto pb de 1970 é o mesmo coroa abraçado pela coroa eu em 2005. Veja o que ele mesmo me disse: "repassei para algumas pessoas o seu mail pedindo que
entrassem no blog para que vissem quanto fascínio exercíamos naqueles
temposssssssss...................."
E é o mesmo compadre Luciano Freitas que aparece no post último capítulo do folhetim brasília vermelha.
Nenhum braço irá te alcançar se vc for feliz nas nuvens. O problema maior será quando as nuvens não te quiserem lá! Uma hora elas te mandam dormir um pouco na realidade. Beijos.
Belo texto, sim. Mais mistério da Aeronauta em nossos corações.
Que belo texto, emocionante,para mim, real...
Belo, belo. Denso!
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