quarta-feira, 23 de julho de 2008

Verde

Quando completei quatorze anos mãe fez uma festa verde pra mim. Até hoje busco a simbologia disso e não encontro; aliás, nunca entendi aquela festa. Primeiro porque lá em casa não festejávamos aniversário. Segundo porque eu esperava que festejassem os quinze e não os quatorze. Talvez pelo fato de naquele mesmo mês minha irmã ter completado quinze anos e comemorado. Sendo assim, era, por bem, festejar o aniversário da irmã mais nova.
Ah, que aniversário! Tudo começou com a roupa que eu iria vestir. Risquei no papel o modelo e mãe se prontificou a comprar o tecido e a costurá-lo. Só que ela comprou um pano verde e costurou tudo no grau aumentativo: a saia do vestido que desenhei era rodada, mas não tanto quanto aquela já pronta; as mangas que desenhei eram pequenas, discretas e não aquelas enormes e bufantes; o laço de fita seria fino, sutil, e não aquela fitona grossa reluzente. E tudo isso verde, verdíssimo. Para completar, sapato verde. E um bolo de aniversário verde.
Não sei que tal obsessão significava. Só sei da algazarra: meus colegas rindo de mim com as bocas cheias de docinhos verdes.
Desde aquela festa descobri que o gosto de rir de si mesma não é tão azedo. Pode ser doce como aquele bolo de aniversário.

12 comentários:

Kátia Borges disse...

Sempre lindas, as suas recordações deixam um gostinho de doce de aniversário na boca. Bj

Senhorita B. disse...

Adorei! Minha casa tb tem coisas nonsense.
beijos!

Bernardo Guimarães disse...

Quando fiz onze, ganhei um pijama de manga comprida; correndo pra mostrar a vó Carmena, passei junto ao cachorro amarrado cuja corda era enorme; o cão me atacou, jogou no chão e rasgou meu pijama.Quem dera tivesse sido um aniversário verde...

Anônimo disse...

Amo as suas histórias. Beijos.

Anônimo disse...

Aeronauta, vc deveria ter colocado a foto de um vestido verde para completar...rs
p.

Anônimo disse...

Não tem jeito. Você é a minha escritora preferida dos últimos tempos.Ri a valer. Pena que não tinha doces verdes na boca. Bjs.

Anônimo disse...

Eu quase entendi que sua irmã teve um aniversário de quinze anos e você não. Juntando isso com as paisagens roubadas na janela do carro e o colo do pai volto a repetir: você precisa acertar as contas com esta mocinha...

aeronauta disse...

Queridos:

Que bom ter vocês como leitores! Fico emocionada.
Bjos!

Anônimo disse...

Essamenina... adoro a maneira de você referir "pai" e "mãe" sem a possessividade. O aniversário verde é fantástico (não da globo) o fantástico de mesmo. Muito bom vir em seu blog todo dia. Beijos.

Anônimo disse...

Docinho verde? Era d q?

Nilson disse...

A história é tão boa que seria difícil de inventar. Essa festa verde lembra, sei lá, Alice no País das Maravilhas. Massa!

Edu O. disse...

que história gostosa!