quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Creusa

A história de Creusa é muito triste. Triste mesmo. Meu coração dói de remorso quando me lembro dela: linda, enorme, toda bem-vestida e sentada em cima do guarda-louça de minha avó (e também madrinha). Aos sábados íamos todos fazer visita aos parentes. Visitas que eu odiava, mas que passei a gostar por causa de Creusa: aquela bonecona linda, que minha avó criava como se fosse neta. Teve até festa de batizado! Minha avó fazia-lhe roupas novas, penteava-lhe os cabelos e passava-lhe perfume. Creusa era uma deusa, que me perdoem a rima infeliz. Mas meu olho de criança egoísta estava marcado nela. Um dia não me controlei e pedi ela pra minha avó. Criei uma situação extremamente constrangedora: era a neta mais nova e afilhada quem lhe pedia algo precioso demais... Porém, como negar? Todo mundo foi contra: mãe, pai, minha irmã... Mas eu botei pé firme: "quero Creusa". Ô infelicidade de destino! Creusa passou para minhas mãos como um grande prêmio, e terminou seus dias não em cima de um guarda-louça, mas no sótão, com os cabelos desgrenhados e a roupa rasgada. Enjoei de ficar cuidando daquela boneca enorme.

4 comentários:

Bernardo Guimarães disse...

Se aperreie não, vai ver Creuza era uma chata mesmo e só você percebeu. Tem umas Creuzas por aí...

Anônimo disse...

Aeronauta, acho é engraçada a história de Creusa, adorê Creusa toda desgrenhada. Beijo Maria (aposto que Bernardo também vai se acabar de rir)

Menina da Ilha disse...

Coitada de vovó, que além de ficar sem sua boneca, a cada visita que nos fazia via com tristeza e resignação o fim que esperava sua Creuza.

Carlos Rafael Dias disse...

belas estórias, essas últimas postadas. bem contadas, engraçadas e com estilo, e que estilo, Nauta!