Minha irmã escreveu esse texto no seu blogue (wwwmeninadailha.blogspot.com), e eu não resisti: leiam e conheçam de perto a figura...
"Desde pequena tenho a consciência que não sou uma pessoa de coração puro. Onde começou minha primeira maldade? Fecho os olhos e me vejo no nosso casebre na roça e um galpão ao lado da casa... Tinha quatro anos. Entrei no tal galpão e lá encontrei uma galinha com um monte de pintinhos. Tentei tirá-los de lá, mas com o meu tamanho era dificil, e a galinha corria para um lado e para o outro. Fui me irritando e comecei a jogar os pintos para fora com toda a força que tinha. Nesses arremessos um pinto morreu. A galinha saiu enlouquecida atrás dos seus filhotes. Eu era muito pequena, mas não me lembro de nenhum arrependimento. Lembro do medo que senti de minha mãe. Ela sim, me apavorava constantemente. O assassinato não passou em branco. Fui punida e condenada na forma da lei de minha mãe. Depois lembro de mim com uns sete anos, já morando na cidade, e uma menina de uns três anos que ia sempre na minha casa acompanhada da mãe. Não sei o porquê, mas não gostava daquela criança. Um dia, aproveitei que minha mãe estava numa conversa séria com a mãe da criaturinha, a chamei com a voz disfarçada em bondade e mandei a menina colocar a mão no bolso do meu vestido. A inocente nem pestanejou. Quando senti sua mãozinha dentro do meu bolso, como a presa que atrai para matar, dei-lhe um beliscão. Até hoje escuto os gritos da criatura. Não me lembro se apanhei. Acho até que a pobrezinha não conversava direito e não soube explicar o que tinha acontecido. E eu, pelo que me conheço, devo até ter tentado ajudar a mãe na busca de saber o que realmente aconteceu. Depois fui crescendo e, segundo relatos da minha irmã, cometi verdadeiras atrocidades com a coitada. Já dei nó no cabelo, não deixava brincar com minhas amigas e outras coisas que ela insiste em lembrar e que muitas vezes tenho até explicações. Outras não, mas nada que uma boa terapia não resolva (para ela), é claro, pois comigo nunca dei sorte com terapeutas. Mas, minha irmã também não é lá flor que se cheire. Depois de grande, tentando recuperar a maldade perdida, me ensinou a matar gente chata com um facão imaginário. E nós duas juntas já podíamos pegar prisão perpétua pelos corpos que mutilamos nesses anos todos. Entre uma raiva ou outra, pois, vou seguindo, e invejando Virgulino Ferreira. Aquilo sim era homem feliz. Fez o que quis na vida. Tinha todo o mundo aos seus pés. Uns dizem que ele viveu pouco. Mas isso não importa, o pouco que viveu foi bem vivido. Nem de traição tinha medo. Por que quem era doido de olhar atravessado para Maria Bonita? Porque com ele não tinha negócio de ter certeza não, bastava a desconfiança e o cabra já era. Eu desejo ter uma vida semelhante. Só queria ao meu lado quem fizesse todas as minhas vontades. Um bico de entojo e pronto: beiço cortado. Um olhar enviezado...: pronto: olho furado. Uma demora em trazer uma água...:pé cortado. Como me vejo? Durante o dia deitada numa espreguiçadeira toda acolchoada, rodeada de mucamas me abanando, muitos empregados massageando meus pés, outros trazendo comida. Visitas? Só de vez em quando e assim mesmo de quem estivesse do meu lado. Chegava um e eu só queria elogios. Nada de perguntas, problemas, queixas ou palavras que pudessem me contrariar. Quando enjoasse, mandava ir embora. Se puxasse bem o meu saco, podia ficar uns dias, mas tudo do meu jeito. Homem? Ah, esse para poder usufruir da minha preciosa companhia, tinha que provar que era bom mesmo. Nada de arrotos, puns e outros excrementos. E nada de ficar atrás de mim numa ânsia louca por sexo. Era quando eu quisesse e tivesse vontade. Tinha ele que viver para me satisfazer. Nada de mau humor ou cara feia. Era para já acordar de dentes abertos e passar o dia em sobressaltos, tentando adivinhar o que me dava alegria. Conversa?, muito pouca, não tenho muita paciência para conversa de homem. Porém, como ainda não tenho esse mundo perfeito, vou agüentando todo tipo de gente chata; e, como o marreco que por cima da água nem balança a cabeça e vai se acabando de tanto bater as pernas sob a água, pego o facão doado por minha irmã e vou deixando corpos mutilados por esse mundo de meu Deus."
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7 comentários:
Vou agora mesmo ao blog desta criatura de bainha de facão na mão para fazer justiça, Aeronauta. Pode deixar! Nem o atenuante de escrever quase tão bem como a irmã vai diminuir a sova.
Poxa, acho que escrever bem é coisa de família. Vou linkar ela lá no Madame K. Amei!
também vou lá!
Gargalhadasssssssssssssssss, essa sua irmã é uma figura!
Aeronauta, agora eu entendo você. E eu que pensava que tinha irmãos excêntricos. É, você tem mesmo é que escrever. Escreva, viu. E que o seu facão seja sempre a escrita. Besosos.
Rapá, conviver com ela deve ser uma guerra de facão! (Já o texto, sem dúvida, NÃO foi feito a facão!).
Sou louca para conhecer sua irmã!
Bjs
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