Noélia Lúcia, irmã que não conheci, morreu em agosto. Agosto é mês com rima desgostosa. E Noélia Lúcia foi embora num agosto na Lapa do Bom Jesus. Ficou lá, a coitadinha, com apenas sete meses de vida. De Noélia guardo apenas o sonho, sua imagem andando por todos os lugares onde vou, como a me lembrar de um pedaço de mim que está no ar...
NOÉLIA LÚCIA
(em memória de uma irmã que não conheci)
A casa povoa-se de novo -
Pai na sala recebe visitas
e mãe na cozinha escuta e fala.
São as vozes que vêm de longe
Tão súbitas, que quem as ouve
não sabe distingui-las.
Mãe sempre ouviu todas elas.
E foram muitas, uma delas
a de Noélia Lúcia.
Ainda menina, repousa
Quando a casa de novo se transforma
de seres vivos em coisas:
Ora o sofá antigo, ora as louças
que se colam uma a uma,
como a irmã outrora morta.
Noélia Lúcia está de volta.
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8 comentários:
delicadeza em seu texto, em seu poema.
O que dizer, Aeronauta? Lindo!
Eu tive dois irmãos que não conheci: Francisco e Lúcia. Não tenho imagens deles, nem na memória nem em sonho. Melhor assim.
Foi minha avó, Mulher de Asas, que nem deixou fotografias. Lindo poema.
Comigo ela apareceu em sonho há muito tempo. E depois de acordar em prantos, deixei que descansasse em paz. Muita bonita a poesia.
Que bonito poema. Bom começar o dia lendo coisas boas, como as que vc sempre escreve.
Obrigado.
dá vontade de silenciar, mas como não dizer que é tão belo?
Sempre delicados os seus versos. E essa capacidade de evocar coisas idas: tb tive um irmão que morreu, esse no parto. E talvez não me lembre muito do episódio porque, aos quatro, cinco anos, não entendi a gravidade da situação e, embora segurando a aba do caixãozinho, comecei a rir da cara de sérios dos meninos da rua. E então todos me repreenderam com grande severidade. Acho que meu irmãozinho me perdoou, se é que ficou chateado.
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